Maratona Oscar: Destacamento Blood/Paula Hermógenes

Maratona Oscar: Destacamento Blood/Paula Hermógenes



Spike Lee sendo Spike Lee.

Curiosamente, não sou fã de Spike Lee desde Faça a Coisa Certa.  Provavelmente porque na época não tinha maturidade para entendê-lo.

Com uma filmografia interessantissima, diversa e polêmica, Spike me ganhou com “Infiltrado na Klan” – roteiro espirituosíssimo, genial mesmo.  Eis que menos de um ano depois veio Destacamento Blood.

Antes de irmos ao filme, explico como cheguei a ele.

Resido na Inglaterra – onde tivemos um lockdown de verdade, uma 2a onda da pandemia mas verdadeira ainda e, durante todo esse periodo, Netflix e Amazon Prime foram fieis companhias.   Um belo dia, passeando pelas indicações de lançamentos mais assistidos no UK, reparei que “Da 5 Blood” era de Spike.  Fui direto ao ponto, quer dizer, ao filme!

Devo acrescentar que não sou fã de filmes com temática de Guerra e, que a Guerra do Vietnã não fez parte nem do meu curriculo escolar, já que tive minha educação no Brasil e nem de minha vivência pessoal.  No entanto,  recentemente, o UK havia passado e volta e meia repassa, por debates polêmicos relacionados à discriminação de imigrantes (caribenhos, africanos ou sul-asiáticos) que utilmente serviram ao Império Britânico em diversas guerras pelo mundo.  Logo no início do filme, o recado foi dado…negros e outras minorias enviados ao Vietnã como contingente descartável.  Ali, o filme me fisgou.

De forma ágil e bem humorada, o filme conta uma história afro-americana pouco conhecida e distante do Capitão América.   A história em si é ficçao, mas o fundamento histórico é claro e bem contado. Os diálogos e algumas atitudes contestáveis refletem o passado injusto.  Então Spike sendo Spike:  o filme é uma ótima ficção baseada em fatos reais ou mais ainda: ficção que repara os efeitos de fatos reais em uma geração inteira.

O filme, por fim, nao é um filme de Guerra, mas um manifesto contra um racismo arraigado e secular.  Reconta fatos que de certa forma mancham a reputação americana, que expõem o quão dividida a America realmente é.

O roteiro contou com quatro editores seguindo a formula de sucesso de Infiltrado na Klan.  A oito mãos, Spike promove um revisionismo histórico. Ironicamente, o filme foi lançado em pleno governo Trump e meses antes do episódio George Floyd – que exibiu o quão desigual e racista a nacao ainda é, uma geração inteira após o fim da Guerra do Vietnã.  No fundo, o filme mostra exatamente isso: a escravidão tomou novas formas em uma sociedade que segue essencialmente desigual.

Curiosamente, o filme teve muitos criticos ferrenhos.  Uma chance para o leitor adivinhar a etnia e posicionamento politico destes.  Enfim, o mundo segue mudando.  Novo governo, novas crencas, novos posicionamentos.  Que o resultado recente do julgamento do caso George Floyd ajude a transformar a sociedade americana e, que nao precisemos de mais Spikes e seus filmes no futuro.  E, principalmente, que nao tenhamos mais “Georges” mortos.

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