O Som do Silêncio
Por Flávia Barbieri
O filme é uma catarse; é um drama com uma potência enorme de intimidade. A história começa com cenas de uma banda de Punk Metal que podem até ser agressivas – sonoramente – para um público mais sensível. Aos poucos, as cenas vão conduzindo a história para uma experiência silenciosa e reflexiva.

Se você assiste sem ter lido a sinopse, pode não entender inicialmente para onde o filme será levado. Mas, aos poucos, o conceito se solidifica e o público é colocado dentro das vivências do personagem principal.
A história é simples: A vida de um jovem baterista muda completamente quando ele percebe que está perdendo sua audição. O que pode confrontar suas duas grandes paixões: a música e a sua namorada, integrante da mesma banda da qual ele faz parte.
Com o passar da história, fica claro que Ruben, brilhantemente interpretado por Riz Ahmed, usa o nível altíssimo de decibéis da sua música para substituir seu vício em heroína. Ao se deparar com a notícia de que sua audição será perdida gradativamente, ele entra em desespero e esconde sua dor, por um período, das pessoas com quem com convive. Ao perceber que o problema se mostrou profundo demais, ele compartilha com a namorada que tenta ajudá-lo de todas as maneiras possíveis, dentro do que ela acredita ser o melhor para ele.
Aqui um destaque para Riz Ahmed que aprendeu a linguagem de sinais americana para interpretar Ruben, e para Oliva Cooke, genial em seu papel da namorada e grande amiga Lou, com sua performance leve e delicada.
A pedido de Lou, Ruben se matricula em uma comunidade para surdos em recuperação. A ideia de um jovem solitário que busca com urgência uma solução para o seu problema é dolorosa e desafiadora. Ruben não aceita sua surdez e luta o tempo inteiro para encontrar a solução mais viável para voltar a ouvir.
É nesse momento que o filme se transforma em algo reflexivo e profundo. Trabalhando na medida certa a divisão ideológica daqueles que encaram a surdez como parte de sua identidade, e aqueles que consideram a surdez algo que pode ser corrigido, o filme caminha para a ideia de que a aceitação de sua condição já seria sua própria cura.
No entanto, Ruben se mantém revoltado e rejeitando sua condição, buscando em implantes cocleares, de valor muito acima do que ele poderia pagar, a solução para recuperar o que ele acredita que tenha perdido com a surdez. Sua vida anterior e sua namorada.
Ao perceber que, mesmo com os implantes, sua audição nunca mais será a mesma, o personagem se entrega à sua condição, e mais do que isso, abraça a possibilidade de encontrar no silêncio a paz que ele tanto buscava em sua música e em uma vida que não pertencia mais à ele.
O filme está sendo bem reconhecido pela crítica internacional, e recebeu 6 indicações no Oscar 2021, nas categorias: Melhor Filme; Melhor Ator (Riz Ahmed); Melhor Ator Coadjuvante (Paul Raci); Melhor Roteiro Original; Melhor Montagem e Melhor Som.