
Um dos filmes que está concorrendo, na fraca lista dos Oscars 2021, nas categorias melhor filme, atriz e direção, é “Bela Vingança” (“Promising Young Woman”), de Emerald Fennell. Tanto o trabalho de atuação e entrega de Carey Mulligan (como a perturbada Cassie), como a direção firme de Fennell (atriz de séries como ‘The Crown’ e ‘Killing Eve’, estreando na direção de longa), bem como toda a parte técnica (além do bom roteiro, fotografia e som impecáveis) é irretocável. O resultado final é um dos mais formidáveis filmes de vingança já vistos.
Acompanhamos a tímida e frágil Cassie, que apesar de já estar na casa dos 30 anos, ainda mora com os pais e não tem namorado (não que isso seja obrigatório, parece nos dizer a personagem). E, mesmo tendo sido uma universitária com altas notas na cadeira que escolheu (medicina), preferiu trabalhar como atendente de cafeteria. Por quê? É o que o filme vai nos revelando, em camadas: houve um evento trágico e marcante em seu passado, do qual ela só vai se livrar do trauma, após concluir um bem urdido plano de vingança. Que, vai aplicando lentamente.
E o modo como este plano é desenrolado (que lembra até os intrincados e violentos filmes de vingança do diretor coreano Chan-Wook Park, de “Oldboy”) nos deixa presos à trama e sem desvios óbvios.
A diretora (e também autora do roteiro) tece um excelente filme feminista, sem entrar no discurso fácil da ‘lacração’ que rege o cinema atualmente, onde é preciso jogar na cara do espectador uma ‘mensagem’. Sim, várias questões que – no dia a dia -, sempre põem a mulher em posição inferior ou de perigo, são mostradas. Contudo, sem panfletarismo barato.
A entrega de Mulligan no papel de Cassie é tamanha, que nos deixa sem fôlego. A moça com um futuro promissor, como diz o título original (baseado no de uma matéria sobre estudante envolvido em caso de estupro, nos Estados Unidos, que a maioria da imprensa se referia a ele como um ‘jovem promissor’, de modo complacente, porque homem branco e rico), abre mão de tudo, para alcançar o seu objetivo.
E só nos resta aplaudir, ao final, as duas mulheres (Mulligan e Fennell) que fizeram o filme acontecer, apesar dos percalços (foi financiado até por meio de vaquinhas, em sites de crowdfunding, porque nenhum estúdio grande o quis bancar). As duas provaram que, dá para passar uma mensagem sem precisar esfregar na cara do espectador, como obrigação. Bravo!
TOM LEÃO