Conhecido por abordar a história do cinema e retratar a violência em suas obras, o consagrado cineasta Quentin Tarantino (Os Oito Odiados) chega a sua nona produção com mais uma narrativa recheada de referências e situada em um período histórico. Quem não conseguia pescar os detalhes nos filmes anteriores, não tinha sua experiência prejudicada. Mas, desta vez, conhecer a época na qual se passa, bem como seus ícones, se faz fundamental para o resultado final de quem for acompanhar ‘Era Uma Vez em Hollywood’ (Once Upon a Time…in Hollywood).
Acompanhamos a trama que envolve Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), um ator protagonista de uma série de faroeste que depois tenta uma carreira no cinema, mas precisa se contentar com participações em pontas em outras atrações, sempre como vilão, enquanto tenta alcançar oportunidades em outros papéis. Ao lado dele, está Cliff Booth (Brad Pitt), seu dublê, amigo e braço direito, ao mesmo tempo que tenta ganhar uns trocados nas produções em que Dalton garante um papel. Em paralelo, apreciamos o dia a dia de Sharon Tate (Margot Robbie), uma atriz em alta no fim dos anos 60, casada com o diretor Roman Polanski, que se muda com o marido para uma casa ao lado de Dalton.
O período no qual essas histórias são construídas e esses personagens são desenvolvidos, sendo a última real, se dá no verão de 1969, época em que as grandes produções do cinema e da TV perdem espaço para obras mais autorais. Nessa mesma época, o movimento hippie ‘paz e amor’ está bombando, mas tem um triste e macabro desfecho, com uma série de assassinatos praticados pela seita comandada pelo serial killer Charles Manson, e que teve Sharon Tate entre as vítimas. A narrativa é linear, com estilo clássico, de início, meio e fim, além dos dotes tarantinescos conhecidos do público, com trilha sonora vibrante, inserções de imagens de arquivo, imagens de flashback como apoio às histórias e a liberdade criativa de seu diretor, que faz algumas alterações na história e encaixa sequências insanas de violência, como já o fez em Bastardos Inglórios, alterando inclusive a morte de Adolf Hitler.
O segredo do sucesso do filme não está só na montagem ou no roteiro bem estruturado, como Tarantino sabe fazer, o elenco é bem afiado e há suporte entre protagonista e coadjuvantes. Leonardo DiCaprio (O Regresso) encarna muito bem um ator inseguro e que busca ser aceito na indústria cinematográfica, já Brad Pitt (12 Anos de Escravidão) é o coadjuvante hilário que serve de alívio e que serve de alívio para o protagonista, mostrando que a amizade entre os dois é forte e sobrevive a todo tipo de adversidade. Margot Robbie (O Lobo de Wall Street), apesar das poucas cenas, ilustra que possui carisma, talento e é uma estrela em ascensão na cada vez mais exigente Hollywood. E sem esquecer de outros grandes nomes que fazem parte do elenco, como Al Pacino, Timothy Olyphant, Damian Lewis e o saudoso Luke Perry, que vêm para enriquecer ainda mais a trama.
E, como dito anteriormente, quem não souber das referências e do período da história pode se sentir um pouco deslocado, mas não deixará de apreciar uma obra bem feita, que dá tempo de todos os personagens se apresentarem, se desenvolverem e mostrarem ao público diálogos bem afiados, hilários e cenas altamente frenéticas e brutais, receita de sucesso do cinema de Tarantino. E sem esquecer que sua visão de enxergar os contextos sociais e a forma como ele busca abordar e corrigir alguns acontecimentos são marcas registradas que fazem dele um cineasta diferenciado e com lugar já garantido no coração dos fãs de cinema. Todos esses ingredientes são compensadores para aqueles que não se lembrarem ou até mesmo não conhecerem esse período tão marcante que foi a transição dos anos 60 para o 70, com o surgimento de novos talentos no cinema e na televisão, além de um acontecimento brutal e até hoje lembrado pelas gerações posteriores.
Mais uma obra magistral de Quentin Tarantino, que lamentavelmente fará falta quando resolver se aposentar após seu décimo filme. ‘Era uma Vez em …Hollywood’ sem dúvida é mais uma das célebres produções que fará você se interessar pela história da sétima arte e embarcar em uma narrativa emocionante e recheada de grandes momentos, divertidos e também macabros. Uma ótima opção de entretenimento.
Cotação: 5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota
