Consagrado por trazer ao público histórias que se passam em cenários inspiradores, personagens cativantes e histórias com muitos dilemas, críticas sociais e grandes reviravoltas, o cineasta Woody Allen (Roda Gigante) está de volta. Envolvido em diversas polêmicas nos últimos anos e após enfrentar problemas para distribuir seu mais novo filme, o diretor volta com a corda toda com ‘Um Dia de Chuva em Nova York’ (A Rainy Day in New York), uma produção que traz atores jovens em seus papéis principais. Será a volta por cima após um filme mediano ou irá oferecer mais do mesmo?
No centro da narrativa está o casal Gatsby Wells (Timotheé Chalamet) e Ashleigh Enright (Elle Fanning). Ele é um jovem bon vivant e que consegue faturar uma graninha nas partidas de pôker, já ela é uma estudante de jornalismo do Arizona e que vai passar um fim de semana com o namorado em Nova York, mas acaba por ter a chance de entrevistar um grande diretor cult, Roland Pollard (Liv Schreiber). Os planos dos dois tomam rumos diferentes e seus caminhos são traçados durante um dia chuvoso na Big Apple, ocasião na qual eles vão refletir acerca de suas escolhas, do futuro e passarão a vislumbrar o amor sob novos olhares.
Assim como ocorre em ‘Meia Noite em Paris’ (Midnight in Paris), o personagem-central se vê em meio a um quadro caótico, que beira à neurose e seus dilemas se entrelaçam a assuntos como infidelidade, fama e, principalmente, cinema. Gatsby, enquanto circula pelas ruas de Manhatan, acaba por encontrar Shannon (Selena Gomez), irmã de uma ex-namorada, e em suas conversas com ela passa a pensar melhor sobre quais caminhos deve seguir em relação à carreira e o futuro de sua relação com Ashleigh. Já esta acaba por conhecer três homens diretamente ligados à sétima arte, como o cineasta Roland Pollar (Schreiber), o roteirista Ted Davidoff (Jude Law) e o galã Francisco Vega (Diego Luna), e num piscar de olhos acaba fisgada pelo mundo do cinema, o que afeta totalmente sua vida e tudo ao seu redor.
É inquestionável a capacidade de Allen em transformar uma cidade em personagem e mais uma vez ele consegue em sua produção. Nova York é o palco responsável por realizar grandes transformações nos personagens, dando a eles mais vida ao transitarem pelos cartões-postais da cidade, além de despertar amor e intensidade nos corações dos protagonistas. A fotografia, assinada por Vittorio Storaro, é um elemento que contribui para a beleza estética e a magia vivenciada pelos intérpretes, que ocorre com um belo contraste da chuva com os raios de sol em sequências oníricas. Os protagonistas lidam com o acaso e as escolhas que fazem são decisivas para seus destinos e para a sequência do filme.
Se o sonho e o cinema, elementos muito presentes nas obras de Allen e revisitados nessa produção, se sobressaem, o roteiro tem um desenvolvimento com sensação de déjà vu, sem trazer alguma novidade. Os personagens veteranos, vividos por Jude Law (Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald), Diego Luna (Se a Rua Beale Falasse) e Liv Schreiber (Amante a Domicílio) dão suporte ao núcleo jovem, mas não são devidamente aprofundados, dando a sensação de que algumas lacunas poderiam ter sido preenchidas. Quanto aos jovens, Timotheé Chalamet (Me Chame pelo Seu Nome) transmite com segurança todas as angústias e conflitos internos de seu personagem e consegue achar sua catarse ao longo que descobre Nova York e as pessoas que passam por essa lúdica cidade. Elle Fanning (Malévola: Dona do Mal), ao viajar pela magia do cinema e se deixar seduzir por essa atmosfera hipnotizante, ilustra uma personagem um tanto vulnerável, mas cheia de sonhos, que tenta aproveitar da melhor forma possível cada momento. Por fim, Selena Gomez (Vizinhos 2) vive uma personagem diferente das que já interpretou, uma garota despojada, irônica, sarcástica e disposta a se jogar de cabeça e enfrentar todas as armadilhas da vida. Gomez consegue se destacar e demonstra um de seus melhores trabalhos na carreira, tendo ainda muito a oferecer.
‘Um Dia de Chuva em Nova York’ representa um retorno às origens de Woody Allen, com uma Nova York bela, apaixonante e capaz de influenciar psicologicamente os personagens. As tramas se misturam e acabam por encontrar um denominador comum na medida em que o espectador junta as peças dos quebra-cabeças. Se não surpreende pela falta de originalidade, Allen ainda nos brinda com histórias sólidas, divertidas e envolventes.
Cotação: 3,5/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota

Um comentário sobre “Poltrona Cabine: Um Dia de Chuva em Nova York/ Cesar Augusto Mota”