Poltrona Cabine: Encontros/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Encontros/ Cesar Augusto Mota

Em um mundo cada vez mais tecnológico, globalizado e dominado pelas redes sociais, não nos damos conta de que as interações pessoais estão mais escassas e isso, além de provocar um certo isolamento, pode acarretar distúrbios e algumas doenças, como a depressão e a crise de ansiedade. E um cenário como esse é retratado em ‘Encontros’ (Deux Moi), filme do cineasta francês Cédric Klapisch, um cenário bem comum na França, como no Brasil e em várias partes do mundo.

Mélanie (Ana Girardot) é uma jovem de 30 anos que trabalha em um laboratório de análises clínicas, mas vive sozinha, sofre de solidão e usa sites de relacionamento para tentar encontrar o par ideal. Já Rémi (François Civil), é um rapaz de mesma idade, mas avesso à aplicativos, mas de alguma forma tenta administrá-los e sofre de constantes insônias e de um sentimento de culpa que carrega desde a infância, por se sentir culpado por não ter conseguido ajudar a irmã mais nova que sofria de câncer. Os dois personagens centrais moram um do lado do outro, mas não se conhecem e nunca se esbarraram em qualquer esquina. Será que vai acontecer alguma coisa?

Quem lê a sinopse acha que o uso dos aplicativos e a internet serão os focos da história, mas na verdade os conflitos internos vividos pelos protagonistas ganham mais força, consultas com psicoterapeutas e trocas de confidências entre profissionais e pacientes sendo trocadas aparecem em boa parte da trama. E, de quebra, o cotidiano de Remí e Mélanie são intercalados, com algumas cenas de ambos muito próximos e nos mesmos ambientes, sejam nas varandas do alto do prédio onde moram ou no mercadinho onde costumam frequentar. Mas eles nunca se encontram, e graças à esse artifício o público não só fica ansioso como também mais interessado pelos desdobramentos e o desfecho da narrativa. Na medida em que a história se desenrola, a ansiedade vai tomando conta e a curiosidade só aumentando. Será que vai haver o esperado encontro entre Rémi e Mélanie?

Além da rotina dos protagonistas, as mensagens que são transmitidas durante as sessões dos dois são utilizadas como uma espécie de catarse para seus problemas e uma forma de motivação para ambos saírem de seus mundos e buscarem alternativas e formas saudáveis de convívio em sociedade. O pular “sair de sua bolha”, como enfatiza Rémi para seu psicoterapeuta. E, se em um primeiro momento eles sentem dificuldades em assimilar as dicas que lhe são apresentadas, descobrimos um pouco mais sobre eles e no meio do segundo ato ficamos sabendo o que trava cada um. Por que os relacionamentos de Mélanie não duram muito? E por qual razão Rémi acha que transmite azar para todos os que estão ao seu redor? Tudo isso é respondido de forma sutil, com uma precisa montagem, além de um interessante jogo de cenas, com o universo de cada um sendo explorado, suas virtudes, seus medos, para depois retornar para as sessões.

Quem acompanha, não só se diverte com a comédia romântica, mas se sente tocado pelos dois terapeutas, as percepções de mundo dos protagonistas e tudo o que foi assimilado por eles durante as consultas, como “não basta apenas compreender a existência de um problema” e “deve-se aceitar a realidade antes de se pensar sobre o futuro e viver no presente”. Um filme que entretém e ao mesmo tempo ensina.

Didático, sensível, divertido e vibrante. ‘Encontros’ é um filme atual e vem não só para nos proporcionar diversão, como também ligar o sinal de alerta em relação à nossos comportamentos. E muitos vão conforme nossas condutas e maneiras que enxergamos tudo a nossa volta. Vale a experiência.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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