Poltrona Cabine: Ad Astra-Rumo às Estrelas/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Ad Astra-Rumo às Estrelas/ Cesar Augusto Mota

A ciência já revelou grandes descobertas e atestamos alguns acontecimentos históricos, dentre eles a chegada do homem à Lua, além da revelação de possíveis formas de vida em Marte. Os estudos científicos ainda provocam fascínio em milhões de pessoas, tendo em vista seu dinamismo e o poder de desafiar o ser humano a tentar alcançar o que na teoria poderia ser impossível. E justamente essa premissa é explorada em ‘Ad Astra: Rumo às Estrelas’ (Ad Astra), de direção de James Gray (Z: A Cidade Perdida). Num misto de sci-fi e drama, o astro Brad Pitt (Era uma Vez em Hollywood) será o protagonista de uma história que promete provocar arrepios e também surpreender o espectador em uma jornada épica.

Roy McBride (Pitt), um engenheiro espacial de reputação inquestionável e indiscutível experiência, parte para uma missão que envolve cruzar o espaço sideral, chegar ao planeta Netuno e tentar descobrir as causas de uma série de raios cósmicos que ameaçam a vida na Terra, além de buscar uma forma de pará-los. Em paralelo, ele também está à procura do pai, Clifford McBride (Tommy Lee Jones), que se perdeu há vinte anos no caminho para Netuno e cujo sumiço pode ter alguma relação com as descargas elétricas constantes e que ameaçam a Terra e quase toda a galáxia, com exceção do planeta Marte.

Na medida em que a trama se desenvolve, notamos uma impressionante transformação psicológica do protagonista. De frio e calculista, passa a a um estado obsessivo por querer encontrar o pai, além de desejar concluir uma missão que este iniciou. A confusão mental e a crise de identidade foram impulsos para que Roy encarasse seus demônios internos, alcançasse sua libertação e pudesse prosseguir em busca de seus objetivos. Todo o drama vivido por ele mostra o quão complexo e perigoso pode ser o ser humano, tão acostumado a viver em sociedade e que se vê isolado e preso a um espaço quase infinito e em uma jornada que não se mostrava se seria ou não bem-sucedida.

E como todo filme que se passa no espaço, ‘Ad Astra’ não poderia deixar de apresentar grandiosos efeitos especiais, além de componentes visuais apelativos e um preciso desenho de som. As sequências são imponentes, o espectador se sente viajando juntamente do protagonista em sua nave e os barulhos estrondosos causam um enorme frisson, deixando a experiência ainda mais imersiva e realista. Seria um exagero essa obra ser comparada a Interestelar, de Nolan ou Gravidade, de Cuarón. A obra de Nolan é mais poderosa no plano estético, mas a produção de James Gray apresenta uma dicotomia ação/tensão em nível mais alto ao filme Gravidade, o que não tira o brilho deste.

Outra grata surpresa é o retorno triunfal de Brad Pitt. O norte-americano já havia surpreendido com sua atuação em ‘Era uma Vez em Hollywood’, de Quentin Tarantino, e desta vez entrega um personagem com muita naturalidade e de alto grau de dificuldade para interpretação. O ator, com sua desenvoltura e segurança, torna o comportamento crível de Roy McBride, além de deixar para a plateia alguns questionamentos sobre até onde o ser humano pode chegar em relação a possíveis descobertas científicas e se a ciência encontraria um denominador comum e deixaria de ser tão usada como arma e utilizada para fins pacíficos. O alto desempenho de Pitt permite que os atores do elenco secundário também se destaquem, como Donald Sutherland (Jogos Vorazes: A Esperança-O Final), Tommy Lee Jones (Jason Bourne) e Ruth Negga (Loving), mas Pitt é quem carrega o filme nas costas. Boa parte da condução da narrativa, bem como suas surpresas e seus desdobramentos passam por seu personagem, que antes chega como quem não quer nada e depois ganha a atenção do público, que passa a torcer por seu sucesso duplo, na missão e em um possível encontro com o pai.

Com uma narrativa sólida, belos planos estéticos e ótimos debates sobre ciência e comportamento humano, ‘Ad Astra’ oferece uma história que leva o público até os limites do universo, bem como uma viagem à personalidade do protagonista, que ilustra múltiplas camadas e faz cada um refletir sobre as escolhas que fazemos e as que podem definir nosso destino. Uma experiência única, grandiosa e inesquecível.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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