Cada vez mais em ascensão, o cineasta Kléber Mendonça Filho, traz ao público mais uma obra de forte apelo, que mistura ficção científica, faroeste e traz um mundo distópico, juntamente de Juliano Dornelles. Aclamado e premiado no Festival de Cannes, com o prêmio do júri, ‘Bacurau’ chega em solo brasileiro e já está chamando bastante a atenção, não só pelo conteúdo, como também da maneira como foi construído.
Antes de inserir o espectador com profundidade na história, Kleber Mendonça e Dornelles primeiramente procuram apresentar com esmero a cidade de Bacurau, que também é personagem da trama, marcada por desigualdades sociais, falta de investimento e muitas famílias vivendo na miséria, porém com moradores que encontram forças para lutar contra todas as adversidades e a inércia e corrupção de seu prefeito. Em seguida, há as oposições entre nacional e estrangeiro e, por fim, a trama principal, com os assassinatos que vitimam os moradores de Bacurau causados por um grupo estrangeiro de atiradores e dispostos a marcar território. Cada etapa construída com cuidado, precisão e com contextos por trás, facilmente captados pelo público.
Além de uma história impactante, com ingredientes tarantinescos, como o uso de cenas fortes e sangue jorrando para todos os lados, a veia crítica se sobressai, com alfinetadas sobre a questão do armamento, a xenofobia e o combate à violência. A montagem e fotografia também contribuem para o sucesso da produção, que permite também apreciar a beleza do Nordeste brasileiro, a cultura local e as belas paisagens do sertão. Objetos brasileiros e estrangeiros também entraram no embate nacional x estrangeiro, como bicicleta e drone, além de representações visuais americanas e brasileiras. Esses recursos são utilizados pelos dois cineastas de forma proposital, para exaltar o sentimento nacionalista, o valorizar mais o que é nosso, o que acaba funcionando.
E uma boa história só funcionaria se houvessem atuações fortes e capazes de carregar a trama até o fim, e com isso também nos deparamos. Mesmo com menos tempo em tela em comparação com as outras produções de Kléber Mendonça, Sônia Braga (Aquarius) representou com sua personagem o símbolo de resistência e uma grande guerreira, que deixa transparecer aos poucos sua personalidade e com um forte apelo na medida em que as pessoas a conhecem com mais profundidade. O vilão, representado por Udo Kier (Melancolia) como o líder dos americanos, é um excelente contraponto e com presença imponente na região. E menção honrosa para Silvero Pereira (Serra Pelada), o pistoleiro Lunga, ele aumenta a dramaticidade da história e brinda o público com bons momentos de humor.
Um filme moderno, forte, crítico e de denúncia. Assim pode ser definido ‘Bacurau’, que procura não só apontar as imperfeições e os males nos quais está inserida a sociedade brasileira, como também construir, valorizar e defender a identidade do povo brasileiro, principalmente o nordestino, que é trabalhador, forte e, sobretudo, acolhedor. Uma obra para ser apreciada e exaltada com todas as honras.
Cotação: 4/5 poltronas.
Por: Cesar Augusto Mota
