Poltrona Cabine: Meu Amigo Enzo/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Meu Amigo Enzo/ Cesar Augusto Mota

“Se você tem total controle sobre uma curva, a chuva será simplesmente uma chuva”. Esta frase não soa apenas como uma espécie de estratégia de um piloto de corridas, ela possui um forte teor filosófico e se aplica perfeitamente à trajetória da vida do ser humano. Caso você tenha confiança e comando sobre sua vida, não será qualquer adversidade que o fará desistir. É nessa vibe que o filme ‘Meu Amigo Enzo’ (The Art of Racing in the Rain), de Simon Curtis (Adeus, Christopher Robin), é construída. Uma linda e comovente jornada que envolve um jovem piloto de automóveis e seu cachorro, uma produção que reforça fortemente que o cão é realmente o melhor amigo do homem.

Baseado no romance homônimo de Garth Stein, a narrativa nos apresenta Denny Swift (Milo Ventimiglia), um jovem espirituoso e aspirante a piloto de Fórmula Um, sempre envolvido com corridas, manobras arriscadas e muitas táticas para surpreender seus concorrentes nas pistas. Ele acaba por conhecer Eve (Amanda Seyfried), professora de inglês para estrangeiros, mas que não se encanta inicialmente por automobilismo.  O filme passa a acompanhar a jornada de Denny, de Eve, que vem a se tornar sua esposa, e de sua filha, a pequena Zoe, tudo por meio das impressões do melhor amigo de Denny, o Golden Retriever Enzo. Graças aos laços fortes que criou com seu dono, Enzo passou a ter um forte insight em relação a condição humana e visualizou que todo o aprendizado de seu dono nas corridas poderia ser bem aplicado a uma trajetória de vida de sucesso, e o adorável cão mostra isso ao longo da história, nos momentos mais felizes e também nos mais tristes.

Logo de início se pode estranhar um som mais abafado nas vozes dos seres humanos e outro mais forte na narração de Enzo, feita por Kevin Costner (Estrelas Além do Tempo). Não se trata de defeito de edição, é um efeito proposital para destacar a visão de mundo que o adorável cachorro possui e para destacar as observações que ele realiza ao longo da trama sobre as atitudes de seu dono e de todos os que se relacionam com ele. Enzo faz um paralelo perfeito com as manobras feitas por Denny durante as provas e as encaixa perfeitamente com as situações do dia a dia, principalmente no relacionamento com a esposa Eve e o momento em que descobrem que ela tem uma forte doença. “Se você é um piloto que desiste logo de cara na primeira curva, é fraco ou “ nunca se vence uma corrida na primeira curva, mas se pode facilmente perder nela” são algumas das colocações que não só fazem refletir, como tocar no coração e se colocar na pele dos personagens que enfrentam situações complexas e de desespero ao longo da jornada retratada.

Não só a sagacidade de Enzo em relação à natureza humana chama a atenção, mas também uma história de forte apelo emocional que consegue realizar um perfeito equilíbrio entre o humor e o drama. Nos momentos de angústia e de percepção de sofrimento dos humanos, Enzo não só se coloca no lugar deles como também reconhece suas limitações, mas mediante estímulos ele consegue transparecer suas emoções e até mesmo capacidade de chamar a atenção e influenciar no comportamento humano, como ocorre na virada do segundo para o terceiro ato, no que tange ao problema que Denny tem com os sogros. Enzo enxerga muito bem o mundo dos adultos, pensa com uma voz humana e demonstra um forte apego a todos os que estão no seu convívio, alegrando todos nos momentos de descontração e preocupando nas ocasiões de carga dramática elevada.

E não só Enzo consegue se destacar, mas os humanos fazem o filme funcionar muito bem. Milo Ventimiglia (This is Us) demonstra um Denny ciente de que se afastou da família por conta de sua rotina e da vontade que demonstra em mostrar que é capaz se ser um bom chefe de família, apesar dos riscos de sua profissão de piloto. Eve, vivida por Amanda Seyfried (Cartas para Julieta), é uma mulher forte e que enfrenta sua doença de peito aberto, sem medo de morrer e disposta a lutar até onde puder para voltar para os braços de sua família. E a pequena Zoe (Ryan Kiera Armstrong), com sua ternura e inocência, encara com tranquilidade o drama vivido pela mãe e os entreveros do pai com os avós, numa demonstração impressionante de maturidade, apesar de ser ainda uma criança. Vemos um núcleo familiar que se sustenta ao longo da produção, com uma história sólida e com a forte presença de um cãozinho disposto a proporcionar felicidade e dar suporte quando necessário. Uma abordagem arrojada, forte e cativante, que prende pessoas de todas as idades e com forte apelo.

Longe da pieguice e do melodrama, ‘Meu Amigo Enzo’ emociona, distrai e mostra que a relação homem e cão é sincera e não precisa de palavras para se mostrar sólida, leal e verdadeira. Uma belíssima produção que proporciona uma inesquecível experiência a quem acompanha desde o início essa incrível jornada.

Cotação: 5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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