Maratona Oscar: Se a Rua Beale Falasse/Paula Hermógenes

Maratona Oscar: Se a Rua Beale Falasse/Paula Hermógenes


If Beale St Could Talk

Com dIreção correta e roteiro adaptado ao cinema por Barry Jenkins baseado no livro homônimo de James Baldwin um maravilhoso clássico moderno chega as telas. O roteiro, desta vez, é bem mais estruturado que o de Moonlight mas o resultado, como de costume, deixa a dever se comparado com a versao literária. Dica aos leitores do blog: leiam o livro no original em inglês!

No elenco principal, dois protagonistas ainda não tão presentes no cinema mainstream estão muito bem e a indicação de Rivers é merecida. Observemos a trajetória futura destes dois. Vão brilhar mais seguramente. A trilha sonora (que escuto agora enquanto escrevo neste momento) é uma primorosa declaração de amor ao Jazz recheada de clássicos de John Coltrane, Miles Davis, Nina Simone e outros. A falta de indicacao a melhor pelicula não é supresa. Vamos aos detalhes.

Depois de ganhar um Oscar por escrever e dirigir, o premiado “Moonlight” Barry Jenkins retorna com “If Beale Street Could Talk”, uma história de um menino negro injustamente acusado de estupro que, depois de ser preso, descobre que a garota que ele morre de amores está grávida. Daquele ponto em diante, somos guiados em ângulos diferentes, mas o amor entre Tish e Fonny é sempre forte.

“IF Beale St Could Talk” trata do tema racismo como outros desta temporada (ex. Green Book e BlackKKKLansman – Infiltrado na Klan) mas talvez seja o menos impactante. É mais uma história de amor em tempos de racismo latente.

Colman Domingo e Michael Beach como os pais do casal protagonista são muito fortes na tela e têm uma cena linda em um bar onde eles discutem o que os pais negros têm que fazer para ajudar seus filhos. Regina King que faz o papel de mãe da protagonista, é muito convincente e também protagoniza uma forte cena em que encontra a mulher que acusara seu genro injustamente instruída por um policial racista. Há uma outra cena entre Fonny e seu velho amigo Daniel, interpretado por Brian Tyree Henry, que também explica o contexto racista da época (início dos anos 70). Daniel diz a Fonny que numa destas situações em que estava no lugar errado na hora errada, foi preso sem haver cometido nenhum crime. E, teve a “escolha” de admitir ter roubado um carro, embora ele nem saiba dirigir, ou ter carregado maconha. Com a segunda sentença seria mais leve, foi sua escolha.

Barry Jenkins faz um excelente trabalho ao trazer a escrita de Baldwin para a tela, mas comete alguns erros consistindo em rodar de 3 a 4 cenas intermináveis que tornam o filme lento. A forma desnecessária como o filme pula para frente e para trás no tempo também são artificiais e um pouco cansativas. A combinação do roteiro e edição deixam o filme cansativo e quase sem fio condutor depois de 30 minutos.

Assim, confesso minha decepção porque “If Beale St Could Talk” poderia ser tão fantástico quanto o livro no qual seu roteiro se baseia mas…nao é.

Quer ver um bom filme com a temática racismo? Veja Green Book! Quer ver outro? BlacKKKsman(Infitrado na Klan). Spike Lee e Peter Farrelly têm muito a ensinar a Jenkins.

Galeria

Maratona Oscar: The Wife / Luis Fernando Salles

O longa “The Wife”, traz a marcante história de Joan Archer, interpretada pela candidata ao Oscar Glenn Close, no papel da esposa de um famoso e narcisista escritor, que acabara de saber que receberá o Prêmio Nobel de Literatura. 

A partir desse momento, o filme dirigido por Björn Runge narra a trajetória dos dois até a Suécia, local da cerimônia, mostrando a relação do casal, com foco na vida de Joan, que teve que abrir mão de sua carreira como escritora para ajudar o marido e “segurar as pontas” enquanto ele continuava produzindo suas obras.

Thw wife - Imagem
Divulgação Internet

No decorrer da história, o filme nos traz uma grande revelação. Tão impactante quanto a atuação de Glenn Close, uma das favoritas para levar a estatueta da academia. A atriz já faturou os prêmios do Globo de Ouro de 2019, na categoria de Melhor Atriz em Filme Dramático e foi nomeada ao Critics’ Choice Movie de Melhor Atriz.

Além da atriz, as atuações de Jonathan Pricy no papel do marido egoísta e de Max Irons, como filho do casal e buscando a aprovação do pai, também são destacáveis. 

Por fim, “The Wife” é um filme de grande qualidade e que nos passa a mensagem sobre a dificuldade que as mulheres podem ter em uma sociedade controlada majoritariamente por homens, que ignoram muitas vezes seus talentos em prol do preconceito.

 

Oscar 2019: Premiação ocorre neste domingo sem um apresentador oficial após 30 anos

Oscar 2019: Premiação ocorre neste domingo sem um apresentador oficial após 30 anos

A premiação mais popular do cinema mundial chega a mais uma edição. O 91º Academy Awards ocorre neste domingo (24) no Teatro Dolby, em Los Angeles, que terá transmissão pela TV aberta, por assinatura e pela Internet no Brasil. Porém, a cerimônia desse ano será bem diferente do que tem sido visto nos últimos 30 anos.

O comediante Kevin Hart  estava confirmado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para apresentar a cerimônia, mas após polêmicas com postagens homofóbicas em suas redes sociais, ele decidiu declinar o convite. Diante desse cenário, a Academia preferiu seguir sem um apresentador principal.

Pouco mais de 50 celebridades foram convidadas para a entrega dos prêmios, com onze delas apresentando os indicados a melhor filme. Dentre os artistas,  estão os atores Dava Carvey, Diego Luna, Mike Myers; o político John Lewis; o chefe José Andrés; o apresentador e comediante Trevor Noah e a cantora Queen Latifah.

A cerimônia de entrega das estatuetas se inicia às 22h, no horário de Brasília (17h no horário local).  Os espectadores podem assistir à entrega dos prêmios do Oscar 2019 pelo canal pago TNT, com a emissora iniciando a transmissão da cobertura da festa a partir das 20h30. O E! também transmite a chegada das celebridades no tapete vermelho do Oscar, a partir das 19h.

Na TV aberta a transmissão do Oscar será feita pela Rede Globo, mas o início será somente após o Big Brother Brasil, com a apresentação da jornalista Maria Beltrão, e comentários de Artur Xexéo e da atriz Dira Paes.

Quem preferir acompanhar o evento pela internet, há a opção do TNT GO,  apenas para os assinantes. Também é possível assistir pelo site oficial da Academia ou por suas redes sociais (Facebook e Instagram), em inglês.

Relembre aqui todos os indicados ao Oscar 2019.

Por: Cesar Augusto Mota

 

 

Maratona Oscar: Poderia me perdoar?/Pablo Bazarello

Maratona Oscar: Poderia me perdoar?/Pablo Bazarello

A Falsária

“Todo comediante quer ser reconhecido como ator sério”. A frase é muito utilizada e , embora relativamente injusta, não está de todo errada. Apesar de a esta altura todos saberem que fazer comédia é mais difícil do que o drama, é nesta segunda vertente da dramaturgia que se encontra o prestígio, reconhecimento pelas atuações e, é claro, os prêmios. É fácil pensar que qualquer humorista carrega em si as mesmas aflições, os mesmos questionamentos e dores que todos nós. De fato, ainda mais, já que precisam estar superficialmente o tempo todo exaurindo alegria a fim de contagiar sua audiência. A síndrome do palhaço triste é outro grande arquétipo imortal e atemporal – é só lembrarmos do saudoso Robin Williams.

A atriz Melissa McCarthy conseguiu seu público-cativo e se tornou uma estrela do cinema norte-americano através da comédia – pelo qual é reconhecida até hoje. Não é surpresa então que o divisor de águas em sua carreira tenha sido justamente num filme do gênero. O que surpreende, no entanto, é que sua ascensão ao estrelato tenha vindo junto do prestígio de uma indicação ao Oscar – justamente pelo mesmo filme: Missão Madrinha de Casamento (2011). Ser notado pela Academia e por um trabalho longe do esperado (o drama) não é uma tarefa a ser subestimada. McCarthy volta agora, sete anos depois, a ser prestigiada pela Academia – desta vez, em seu primeiro papel sério no cinema.

Em seus personagens cômicos, Melissa McCarthy sempre conseguiu encontrar humanidade suficiente para retirar deles trechos dramáticos, nos quais a atriz estendia seu alcance performático – é só perceber cenas específicas de comédias como Uma Ladra Sem Limites (2013) ou As Bem Armadas (2013), ambos exibindo uma faísca do que poderia ser seu desempenho num longa unicamente focado em tal teor. E a oferta não foi em vão. Em Poderia me Perdoar?McCarthy surpreende com uma atuação tocante e pra lá de melancólica.

Passado na década de 1990, e baseado numa história real, McCarthy vive Lee Israel, uma escritora cinquentona, que não está na melhor fase de sua vida. Ao nos depararmos apenas com a superfície do que é a sinopse da vida da personagem, automaticamente somos transportados para um ambiente triste, solitário e repleto de amargura. Israel é uma destas personagens que parecem ter uma nuvem preta pairando sobre sua cabeça. Todo e qualquer elemento de sua vida soa fora do lugar. O relacionamento de anos com Elaine (Anna Deavere Smith) chegou ao fim e tudo o que restou foi um apartamento frio, vazio e sujo. No trabalho, as coisas não vão muito melhor. Sua agente insiste para que seus livros criem uma conexão maior com o público – e daí surge um debate bem interessante (e que parece nunca ter fim) sobre arte, sucesso, lucro e comercialização.

 

No fundo do poço sentimental, sem dinheiro para conseguir pagar o aluguel e atraindo somente “caloteiros” como Jack Hock (Richard E. Grant), o primeiro passo para a mudança precisava vir da própria. Ao invés disso, ela escolhe o caminho mais fácil – ou desesperado – e opta por começar a forjar cartas falsas de escritores e artistas icônicos. E assim, consegue seguir sobrevivendo. Mas até quando?

Poderia me Perdoar? tem roteiro de Nicole Holofcener (em parceria com Jeff Whitty), um dos nomes femininos mais quentes do cinema independente norte-americano, responsável pela direção de filmes como Amigas com Dinheiro (2006), Sentimento de Culpa (2010) e À Procura do Amor (2013). Desta vez, Holofcener dá os holofotes para a jovem Marielle Heller (O Diário de uma Adolescente), que assume o comando da obra –  e era uma das diretoras cotadas a assumir a vaga na categoria no Oscar. Infelizmente sua indicação não veio, o que não diminui em nada o trabalho da cineasta. Heller entrega uma obra intimista, que consegue transpor ao âmago de sentimentos tão doloridos e difíceis de lidar. O clima do cinema autoral impera na produção – realista, crua e detalhada.

No fundo do poço sentimental, sem dinheiro para conseguir pagar o aluguel e atraindo somente “caloteiros” como Jack Hock (Richard E. Grant), o primeiro passo para a mudança precisava vir da própria. Ao invés disso, ela escolhe o caminho mais fácil – ou desesperado – e opta por começar a forjar cartas falsas de escritores e artistas icônicos. E assim, consegue seguir sobrevivendo. Mas até quando?

Poderia me Perdoar? tem roteiro de Nicole Holofcener (em parceria com Jeff Whitty), um dos nomes femininos mais quentes do cinema independente norte-americano, responsável pela direção de filmes como Amigas com Dinheiro (2006), Sentimento de Culpa (2010) e À Procura do Amor (2013). Desta vez, Holofcener dá os holofotes para a jovem Marielle Heller (O Diário de uma Adolescente), que assume o comando da obra –  e era uma das diretoras cotadas a assumir a vaga na categoria no Oscar. Infelizmente sua indicação não veio, o que não diminui em nada o trabalho da cineasta. Heller entrega uma obra intimista, que consegue transpor ao âmago de sentimentos tão doloridos e difíceis de lidar. O clima do cinema autoral impera na produção – realista, crua e detalhada.

 

Por Pablo Bazarello

 

Confira a crítica no site do CinePop.

Maratona Oscar: Green Book/Flávia Barbieri

Maratona Oscar: Green Book/Flávia Barbieri

“Green Book” é um daqueles filmes que, dificilmente, receberia críticas negativas. É aquela história cheia de sutilezas e ensinamentos. Apaixonantes para todos os gostos.

 

Histórias fictícias – se bem escritas – podem gerar um excelente filme. No entanto histórias reais, geralmente, rendem um filme de Oscar. É o caso de “Green Book”.

 

Estreado pelo intenso e sagaz Mahershala Ali, impecável no papel de Dr. Don Shirley e por Viggo Mortesen (Tony Lip) – eterno Aragorn – o filme discorre sobre uma amizade improvável entre um segurança de um bairro ítalo-americano no Bronx, e um pianista negro conhecido mundialmente. Nem a mente mais criativa de um produtor conceituado poderia imaginar uma história tão vigorosa. A amizade inicia-se quando Tony Lip é contratado como motorista de Dr. Don Shirley, que precisa de alguém para guiá-lo em sua turnê de shows de Manhattan até o Deep South. Ao longo do filme, a intolerância inicial de dois homens muito diferentes encontra terreno comum em uma viagem musical e elegante. No momento inicial de sua aventura, entendemos o nome do filme. Green Book, na tradução Livro Verde, é o guia sobre os poucos estabelecimentos que eram seguros para afro-americanos, na década de 60. Numa história que envolve realidades diferentes de pessoas com vivências quase antagônicas, confrotando situações de racismo, e seus perigos e injustiças – eles são forçados a deixar de lado suas diferenças para conseguirem completar a turnê. A amizade, então, intensifica-se nesse ambiente hostil que os aproxima. Uma amizade incerta transforma-se em uma relação inacreditável de afeto, apoio e companheirismo. Tal amizade se torna tão peculiar que Dr. Shirley ajuda Tony a escrever românticas cartas para a esposa, a doce Dolores, vivida pela ainda mais doce Linda Cardellini. O racismo passa a ser apenas pano de fundo para essa história de amizade. Green Book não é um filme sobre lugares que podiam ser ou não frequentados por negros, não é sobre racismo ou preconceito. É sobre amizade, sobre a mais profunda amizade entre duas pessoas completamente diferentes e, ainda assim, iguais. O que mais comove é que são pessoas reais, e o filme é apenas uma pequena parte dessa história estraordinária. Green Book é um filme sobre respeito, sobre nobreza e sobre ter um olhar divertido sobre as piores situações.

Dirigido por Peter Farrelly , o filme leve, elegante e divertido. O roteiro inspirador é permeado de humor e drama, na dose perfeita. O filme é, merecidamente, um dos favoritos para o Oscar; e poderá facilmente desbancar todos os outros concorrentes e levar a estatueta para a casa.