Maratona Oscar: A Favorita/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: A Favorita/ Cesar Augusto Mota

Conhecido por investir em filmes que focam no inusitado, no caricato e em situações perturbadoras, o cineasta grego Yorgos Lanthimos apresenta ao público uma produção de época, mais precisamente no século XVIII, cujo pano de fundo é a ambição pelo poder. Se o espectador sentiu angústia e experimentou ocasiões provocadoras em ‘O Lagosta’ (2015) e ‘O Sacrifício do Servo Sagrado’ (2017), certamente vai se incomodar com ‘A Favorita’, que traz uma trinca feminina avassaladora, com Olivia Coman (Assassinato no Expresso do Oriente), Rachel Weisz (Desobediência) e Emma Stone (La La Land: Cantando Estações).

A trama apresenta a rainha Anne (Colman), que possui como amiga e confidente, a duquesa de Marlborough, ou simplesmente, Lady Sarah (Weisz). Esta usa a amizade desde a infância que tem com a chefe do Estado britânico para influenciar nas decisões mais importantes e nos rumos da Inglaterra, tendo em vista a forma inconsistente de governar de Anne. Porém, tudo começa a mudar com a chegada de Abigail Hill (Stone), prima distante de Lady Sarah e que está em busca por um trabalho após sua família enfrentar uma grave crise financeira e pelo fato de ela não ser uma mulher de posses. Com seu carisma, jovialidade e proatividade, Abigail vai conquist ando aos poucos seu espaço na corte e despertando cada vez mais admiração e paixão da rainha Anne, deixando irada a duquesa de Marlborough. A partir daí, uma dura disputa é travada entre as duas primas para ver quem conquista o coração e se torna a favorita da rainha Anne.

Sob a batuta de Tony McNamara (Ashby) e Deborah Davis (As Namoradas do Papai), o roteiro não só toca no contexto político, como a guerra travada entre França e Inglaterra no período que compreendeu a segunda metade do governo de Anne, perpassando os e ventos da Guerra da Sucessão Espanhola, como também valoriza o clima de tensão e suspense ao redor dos encontros às escondidas de Lady Sarah e a rainha Anne, e posteriormente, da chefe de Estado britânico com Abigail e o clima de tensão e hostilidade entre as duas primas durante a trama. Na medida em que a história se desenvolve, não há a preocupação do espectador com um possível embate entre França e Inglaterra, mas o clima de guerra instaurado para ver quem conquista a rainha Anne e fica mais próxima ao trono, nem que seja necessário derramar sangue e uma passar por cima da outra para alcançar o objetivo. E tudo isso é feito com o estilo criativo, cínico e arrebatador de Yorgos Lanthimos, sempre disposto a mostrar situações chocantes e surpreender o espectador.

Além do roteiro instigante, com uma história tensa e um elenco eletrizante, há uma fotografia e um figurino que impressionam. A primeira, por retratar os corredores da corte sob ângulos bem ampliados e as lentes por trás das personagens quando caminham pelos corredores para dar a impressão de que os espaços do palácio são extensos e quase intermináveis. O segundo, com a apresentação de roupas bem extravagantes e maquiagens bem pesadas, similares às usadas na época, numa produção que presa pela precisão e extravagância que o filme pede.

E as atuações são impecáveis, cada atriz contribui do seu jeito para que a narrativa se sustente ao longo dos 120 minutos de projeção. Colman representa uma rainha que mais se importa em se esbaldar com suas riquezas e os prazeres da corte, mas que revela impactantes segredos pessoais no começo da trama. Apesar do reconhecimento tardio, a intérprete da rainha Anne demonstra tato para o drama e ter time para brindar o público com alguns momentos cômicos, seja durante as festas da corte ou até mesmo quando auxiliada por Lady Sarah ou Abigail. Uma possível indicação para o Oscar representaria uma coroa&ccedi l;ão pra o grande momento que vive Olivia Colman. Rachel Weisz chama a atenção com sua personagem, que vai do céu ao inferno, e em momentos mais delicados consegue convencer, mesmo sem precisar derramar uma lágrima. E Emma Stone demonstra que é uma atriz que a cada dia está em ascensão. A vencedora do Oscar mostra uma Abigail que cresce ao longo da história, antes uma simples serva, que chegou como quem não queria nada até atingir o patamar que conseguiu, e vivendo u grande clímax na história, para a surpresa do espectador. Sem dúvida mais um trabalho de destaque de Stone e que será por muito tempo comentado.

Apesar do desfecho um pouco frustrante, com a impressão de que poderia ter sido mais trabalhado, ‘A Favorita’ é um filme de época que se mostra bastante atual, com a busca incessante por um objetivo, seja ele o poder ou a riqueza, e o uso de todos os esforços para atingi-lo, mesmo que sejam necessários meios escusos e imorais. E como diria John Acton, “todo poder corrompe, e o poder absoluto corrompe de forma absoluta”. Sem dúvida é um filme credenciado à temporada de premiações e com chances de ser agraciado pela Academia nas mais diversas categorias, sejam em prêmios técnicos, como nos principais. Restar aguardar e torcer.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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