Uma obra que acena para a fantasia e a alia a um mundo real cercado por problemas pessoais, principalmente no aspecto financeiro. Uma premissa interessante, e o filme sendo feito de maneira alegórica, com uma fotografia que permite separar a realidade da ficção. Assim é ‘Mare Nostrum’, novo filme de Ricardo Elias (Os 12 Trabalhos), mas será que ele alcança um bom resultado?
A narrativa nos apresenta Roberto (Silvio Guindane), um jornalista esportivo que viveu na Espanha por muitos anos e retornou ao Brasil devido à crise econômica, sem emprego e perspectivas. Do outro lado, Mitsuo (Ricardo Oshiro) trilha o mesmo caminho de Roberto, ao viajar para o Japão em busca de melhores condições de vida ao lado da esposa. Porém, um tsunami destrói sua casa e seus planos, obrigando os dois a voltarem para casa, na Praia Grande (SP). Os caminhos de Roberto e Mitsuo se cruzam devido a um terreno negociado por seus pais há décadas e eles decidem tentar ganhar dinheiro por conta do local para sanarem dívidas pessoais. Porém, o conflito entre os dois se acentua quando começam a acreditar que o lote é dotado de poderes mágicos e pode realizar todos os desejos das pessoas, desde que não sejam de cunho econômico.
O roteiro se preocupa em trazer magia e poesia à história, e até consegue, mas o ritmo da trama é demasiadamente lento, os diálogos muito pragmáticos e os personagens um tanto apáticos e sem camadas, tanto Mitsuo como Roberto começam e terminam a história com a mesma expressão. Os conflitos pelos quais passam antes do embate entre ambos são bem explicados e sensibilizam o público, Roberto com dificuldades de arrumar um novo trabalho e dívidas batendo sua porta, como o da escola da filha, impedida de frequentar as aulas, e um valor alto de IPTU cobrado de sua mãe, quantia do terreno de Praia Grande, objeto de briga entre os personagens centrais. E Mitsuo de volta ao Brasil procura o pai e a irmã na peixaria de propriedade da família e precisa de cerca de 20 mil reais para recomeçar sua vida. Se já é difícil, ele tem outra preocupação, o estado de saúde do pai, Nakano (Edson Kameda), que necessita de cuidados especiais em decorrência de um AVC sofrido há 10 anos.
Além da apresentação dos personagens e de seus problemas, não vemos aprofundamento em suas atitudes, que são questionáveis, como o desleixo de Roberto com a educação da filha e Mitsuo ter deixado a família por tanto tempo e só ter voltado para pedir ajuda. Outro ponto questionável está também na construção narrativa no tocante aos poderes mágicos do terreno, eles não exercem influência significativa nos rumos da trama, servem mais para atenuar as decepções dos protagonistas, sejam as amorosas como as financeiras. Um recurso que poderia melhor ter sido utilizado, mas subaproveitado no roteiro.
Apesar de bons elementos e uma interessante premissa, ‘Mare Nostrum’ deixa a sensação de que poderia muito mais. A retratação dos problemas vividos por muitas pessoas no cotidiano foram bem colocados, mas a execução do conflito central foi falha. Uma pena.
Cotação: 2,5/5 poltronas.