Poltrona Cabine: Uma Quase Dupla/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Uma Quase Dupla/ Cesar Augusto Mota

Sabemos que o cinema nacional apresenta em maior quantidade filmes focados na comédia, sejam elas pastelões ou daquelas mais rasgadas, com situações inusitadas e que beiram ao ridículo. Mas também temos aqueles longas mais dramáticos, que prendem a atenção e conseguem motivar o público a acompanhar a história até o fim. E o que você diria se visse um filme com a junção desses dois gêneros?

Sob a direção de Marcus Baldini (Bruna Surfistinha), ‘Uma Quase Dupla’ é uma comédia policial que trará uma dupla do barulho (ou seria uma quase dupla?), com Tatá Werneck e Cauã Reymond, cada um com seus personagens de características peculiares em busca da resolução de uma série de crimes que abalaram uma pacata cidade do interior, Joinlândia. Mas será que essa dupla funciona numa trama tão complexa?

Cláudio (Reymond) é o subdelegado de Joinlândia, boa praça, seguidor da lei, porém é muito ingênuo e filhinho da mamãe, que conta com participação especial de Louise Cardoso. Já a investigadora Keyla (Werneck) é o oposto, despojada, cheia de si e convencida de que seus métodos, mesmo que não convencionais, são eficientes, e que ela é uma policial mais bem preparada que seu colega e que, tanto ele e a cidade não estão à sua altura (perdão pelo trocadilho). Mesmo que sejam de gênios incompatíveis e tão diferentes, ambos terão que se juntar para solucionar os três assassinatos que caíram em suas mãos, a de uma jovem que sempre fazia voz de bebê (Valentina Bandeira), a de uma atendente de telemarketing (Luciana Paes) e a de um músico que sempre toca no bar suas próprias músicas (George Sauma). Nas cenas dos crimes, sempre mensagens escritas com letras garrafais e em vermelho e com dicas de que mais uma vítima poderia ser pega.

O roteiro nos apresenta uma premissa interessante, a de que o serial killer matava pessoas que ele considerava chatas e deixava nas vítimas objetos que lhe eram caraterísticos, seja uma chupeta, um fio de telefone ou um instrumento musical, mas o assassino conseguia desafiar os investigadores e até provocá-los com algumas pistas falsas, que podem ser vistas durante a narrativa, e o ar de mistério existente, apesar do tom exagerado e de algumas ocasiões absurdas. Porém, temos que lembrar que é um longa policial e também de comédia, o que tornaria tudo aceitável. Apesar de ser uma história que não oferece muita novidade, sobre uma investigação em uma cidade aparentemente tranquila, o filme oferece muitos elementos chamativos, como a excentricidade da policial Keyla, que faz de tudo para se sobressair, mesmo que tenha que transgredir a lei, e o comportamento mais contido de Cláudio, que se sente ofuscado por sua companheira de trabalho boa parte do tempo e se segura ao máximo para não acalorar as discussões. E são desses perfis tão díspares que nasce uma perfeita combinação que vai ser imprescindível na resolução dos crimes.

As atuações são positivas, Tatá Werneck não demonstra novidade ao interpretar uma personagem com uma alta veia cômica na narrativa, estereótipo que já está acostumada a representar, e muito bem por sinal. Werneck atinge um resultado positivo e mostra que a cada dia vem se consolidando, seja na televisão ou no cinema. Cauã Reymond, não muito habituado com o humor, consegue se firmar na trama no último ato, tendo em vista sua habilidade para o drama e levando-se em conta que seu personagem é raso e na sombra da investigadora Keyla. Que ele possa ser visto em mais papéis cômicos em produções futuras, e talento para esse e outros gêneros ele tem. Menções honrosas para os atores Daniel Furlan, Ary França e Alejandro Claveaux, o playboy da cidade, o delegado impaciente e o legista, respectivamente. Cada um deles dá o ar de sua graça para a história e oferecem situações que vão enriquecer a narrativa e fazer o espectador levantar suspeitas sobre eles e os outros personagens e se interessar em descobrir a identidade do verdadeiro serial killer de Joinlândia.

Se você gosta de filmes cômicos e procura um que tenha uma comédia diferente, fora das que está acostumado a ver, ‘Uma Quase Dupla’ é uma ótima opção, além de se tratar de um longa que se sustenta até o fim e aguça a curiosidade de quem acompanha. Vale muito a pena ver!

Cotação: 3,5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota

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