Maratona Oscar: Eu, Tonya/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Eu, Tonya/ Cesar Augusto Mota

Está prestes a chegar ao circuito nacional mais uma cinebiografia, mas se você pensa que se trata de mais um filme sobre uma celebridade que está no auge do sucesso, atravessa diversas adversidades, mas depois se reinventa e reencontra a felicidade, está enganado. ‘Eu, Tonya’, indicado em três categorias no Oscar 2018, como montagem, atriz coadjuvante e atriz principal, não procura glamourizar e tampouco transformar em mito a protagonista, a fórmula utilizada aqui é diferente, e sem dúvida, vai chamar a atenção de quem acompanhar.

Dirigido por Craig Gillespie (Arremesso de Ouro), ‘Eu, Tonya’ retrata a trajetória de Tonya Harding (Margot Robbie), da infância pobre ao auge da carreira na patinação artística no gelo, bem como seu declínio. Além de sua carreira, o longa retrata os dramas pessoais vividos pela personagem central, com os abusos e agressões sofridos da mãe exigente, sarcástica e debochada, Lavona Harding (Allison Janney), e os maus tratos do marido até o episódio que culminou com denúncia e julgamento nos tribunais de uma brutal agressão sofrida por sua concorrente, Nancy Kerrigan (Caitling Carver), que teve seu joelho quebrado às vésperas das Olimpíadas de Inverno, em 1994. Por trás desse ataque covar de, estavam Jeff Gillooly (Sebastian Stan), o marido de Tonya, e Shawn (Paul Walter Hauser), seu segurança, num dos capítulos que acabaram por culminar com o fim do percurso de uma das atletas mais promissoras da patinação estadunidense nos anos 1990, mesmo sem a comprovação da participação efetiva de Tonya no caso.

O primeiro terço do filme traz como destaque Lavona, mãe de Tonya, muito bem interpretada por Allison Janey. Se Gary Oldman está irreconhecível e impecável em cena em ‘O Destino de Uma Nação’, o mesmo acontece com Allison. A maquiagem e a transformação pela qual passou a aproximaram da aparência idosa da mãe de Tonya, além dos trejeitos desenvolvidos pela atriz durante a trama e condução de sua personagem, com cenas memoráveis junto de Margot Robbie. Lavona, mesmo sendo uma mãe controversa e longe de ser exemplo para a filha, com seu jeito turrão e debochado, exigia sempre o melhor de Tonya e que ela nunca se conformasse com pouco, mesmo que para isso precisasse partir para meios mais violentos.

Margot não fica atrás e mostra que mereceu a indicação de melhor atriz no Oscar. A australiana apresenta ao público uma personagem multifacetada, em dados momentos chora, em outros ri, há espaço para expressar felicidade e euforia ao se lembrar que foi uma patinadora de sucesso e também consegue transparecer culpa ao relembrar do incidente com sua ex-colega. Reunir tudo isso em apenas uma personagem e conseguir transmitir autenticidade e verdade ao espectador é algo muito difícil, e Margot consegue fazer isso com eficiência, uma atuação memorável.

O formato do filme é diferente e faz o espectador não tirar os olhos da tela e se interessar pela história de Tonya. Não há apenas uma reconstituição dos fatos, a popular dramatização, existe também uma espécie de documentário presente no filme, com uma série de depoimentos dos envolvidos direta ou indiretamente com a vida de Tonya Harding, com entrevistas e depoimentos (dos atores), além da parte investigativa, do drama, do suspense e alguns momentos hilários, sem esquecer da quebra da quarta parede, com os personagens interagindo com o espectador e interrompendo as ações. O roteiro, assinado por Steven Rogers (P.S Eu Te Amo), tem como mérito não reduzir a vida de uma pessoa a apenas um fato, mas humanizar a imagem da protagonista e mostrar o que está por trás da personalidade de Tonya Harding, como as agressões, as pressões para ser a melhor em seu esporte, a obsessão pelo sucesso e o preconceito sofrido por não ser esteticamente agradável aos olhos dos jurados da patinação no gelo. Quem vê Tonya se lembra dela por diversos motivos, e várias mensagens são transmitidas durante o filme, e uma delas é uma crítica à cultura americana, de cultuar o belo e a perfeição como requisito para o sucesso. O filme também acerta nessa proposta.

Um filme dramático, cuidadosamente construído e com uma biografia que consegue conectar a protagonista com o público. ‘Eu, Tonya’ é um dos longas-metragens melhor produzidos, com uma equipe de primeira, da direção ao elenco, todos em harmonia e com um excelente resultado. Faz juz às indicações ao Oscar.

Avaliação: 4/5 poltronas.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota

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