O Festival de Cinema de Gramado celebrará, de 17 a 26 de agosto, sua 45ª edição ininterrupta com uma promissora seleção de longas-metragens nacionais. E repetirá uma iniciativa que causou certa polêmica em maio passado no Festival de Cannes, mas que mostra-se um incontornável processo de convergência entre diferentes plataformas audiovisuais. Em meio aos sete filmes nacionais na disputa pelos Kikitos, todos eles inéditos no país, está o primeiro longa brasileiro produzido pelo serviço de streaming Netflix: O Matador, produção na pegada de faroeste dirigida por Marcelo Galvão. O Rio Grande do Sul será representado por Bio, filme em que Carlos Gerbase faz experimentações com os registros de ficção e documentário.
O anúncio dos concorrentes foi feito na manhã de ontem por dois dos curadores do festival, Rubens Ewald Filho e Marcos Santuário. A programação de Gramado conta ainda com a mostra de longas estrangeiros, com sete produções de países como Chile, Argentina, Uruguai e Colômbia, e competições nacional e gaúcha de curtas. Os homenageados desta edição serão o animador gaúcho Otto Guerra (troféu Eduardo Abelin), o ator baiano Antonio Pitanga (troféu Cidade de Gramado), a atriz e cantora argentina Soledad Villamil (Kikito de Cristal) e a atriz paraense Dira Paes (troféu Oscarito).
Na abertura, será apresentado fora de competição, no dia 18 agosto, no Palácio dos Festivais, João, o Maestro, cinebiografia do pianista brasileiro João Carlos Martins. Estrelado por Alexandre Nero e pelo gaúcho Rodrigo Pandolfo, o longa é dirigido por Mauro Lima (de Tim Maia e Meu Nome Não É Johnny).
A seleção de longas brasileiros para o Festival de Gramado (leia mais abaixo) reúne cineastas com destacada trajetória, como Galvão (melhor filme na edição de 2012 com Colegas e premiado em 2014 com A Despedida), Gerbase e Laís Bodanzky, ela concorrendo com Como Nossos Pais. Também marcam presença diretores que têm um destacado caminho no cinema autoral, a exemplo de Felipe Bragança, com Não Devore Meu Coração!, exibido em competição no Festival de Sundance, e a estreante Caroline Leone, que conquistou o Prêmio da Crítica no Festival de Roterdam 2017 com Pela Janela – o longa foi selecionado também este ano para a mostra Generation do Festival de Berlim.
— Diferentemente de 2016, não temos nenhuma comédia. Foi coincidência isso. Todos os longas brasileiros em competição são inéditos no país, três deles inéditos no mundo — destacou Santuário na entrevista coletiva.
Para Rubens Ewald Filho, a múltipla seleção representa a resposta a um desafio que a curadoria tenta, a cada ano, superar:
— Gramado é uma lenda. E, tornando-se uma lenda, algumas coisas ficam mais fáceis, outras bem mais difíceis, como manter o status de lenda. O festival está sempre em vias de transformação, crescendo e se modificando, mas sempre sem perder as características que o tornaram tão querido.
Em 2017, também completam-se 25 anos da internacionalização do Festival de Gramado, iniciativa que buscou manter o festival em pé quando a produção nacional foi interrompida com a extinção da Embrafilme pelo governo do presidente Fernando Collor. Dez países são representados nos sete filmes da competição internacional: Los Niños (Chile/Colômbia/Holanda/França), de Maite Alberdi, Pinamar (Argentina), de Federico Godfrid, El Sereno (Uruguai), de Oscar Estévez e Joaquín Mauad, Sinfonía para Ana (Argentina), de Virna Molina e Ernesto Ardito, El Sonido de las Cosas (Costa Rica), de Ariel Escalante, La Ultima Tarde (Peru), de Joel Calero, e X500 (Colômbia/Canadá/México), de Juan Andrés Arango.
Com orçamento previsto de R$ 3,6 milhões, o Festival de Gramado firmou uma parceria com o governo do Canadá, que enviará à Serra uma delegação de profissionais para ministrar seminários e workshops. O evento contará ainda com encontros direcionados a profissionais e universitários do segmento audiovisual, nos dias 24 e 25 de agosto.
A seguir, um dos longas brasileiros em competição
A Fera na Selva (RJ), de Paulo Betti
Baseado livremente na obra do escritor americano Henry James, o filme estrelado por Paulo Betti e Eliane Giardini narra a história de um homem que vive à espera de que algo extraordinário venha a acontecer em sua vida, o que o torna incapaz de viver o dia a dia e perceber os pequenos prezares e afetos que o cercam.
https://youtu.be/lvqZW3D4HIU
Veja a lista dos curtas nacionais em competição:
#feique, de Alexandre Mandarino (RJ)
A Gis, de Thiago Carvalhaes (SP)
Cabelo Bom, de Swahili Vidal (RJ)
Caminho dos Gigantes, de Alois Di Leo (SP)
Mãe dos Monstros, de Julia Zanin de Paula (RS)
Médico de Monstro, de Gustavo Teixeira (SP)
O Espírito do Bosque, de Carla Saavedra Brychcy (SP)
O Quebra-Cabeça de Sara, de Allan Ribeiro (RJ)
O Violeiro Fantasma, de Wesley Rodrigues (GO)
Objeto/Sujeito, de Bruno Autran (SP)
Postergados, de Carolina Markowicz (SP)
Sal, de Diego Freitas (SP)
Tailor, de Calí dos Anjos (RJ)
Telentrega, de Roberto Burd (RS)
Fonte: Zero Hora
Por Arita Rigonato no blog Livretos e Pensamentos