Uma tragédia ocorrida no seio familiar cujo trauma perdura até os dias atuais. “Neve Negra”, filme de Martin Hodara, parece tratar de terror por conta do título, mas é um drama psicológico que vai mexer com você. A produção argentina estreou no circuito nacional na semana passada e já está dividindo opiniões.
A história acompanha a vida de Salvador (Ricardo Darín), um homem introvertido que mora na Patagônia e acusado de assassinar o irmão na adolescência. Marcos (Leonardo Sbaraglia), seu outro irmão, e a cunhada Laura (Laia Costa), visitam-no e tentam convencê-lo a vender as terras que ficaram para a família após a morte do pai. A partir daí, a narrativa utilizada serve para prender a atenção e revelar segredos há tanto tempo ocultos.
O recurso do flashback, mesmo não sendo uma coisa inovadora, ajuda a tornar a trama mais instigante, além de aumentar gradativamente o drama e a tensão acerca do assassinato de Juan (Iván Luengo). Com o auxílio de uma fotografia apagada e um ambiente claustrofóbico, a narrativa causa arrepio no espectador, com um bom efeito psicológico e as peças se encaixando aos poucos para desvendar o mistério que há tanto tempo atormenta a família.
No tocante ao elenco, as atuações são surpreendentes, principalmente de Ricardo Darín e da espanhola Laia Costa. O primeiro surge com uma aparência grotesca e um semblante de amargura, e a impressão que temos é que uma iminente agressão entre Salvador e Marcos vai acontecer, um papel que é difícil de fazer e Darín faz com todas as honras. Já a personagem de Laia, Laura, é a mola mestra da história, pois é ela que se antecipa aos perigos, consegue estabelecer uma forte ligação com Sabrina (Dolores Fonzi), outra irmã de Marcos e Salvador, e com suas habilidades impressionantes ajuda a esclarecer uma série de dúvidas, até o desfecho da história.
Se o filme não é um primor, traz uma atmosfera forte bastante reflexiva para o espectador, com uma excelente direção de arte, fotografia e atuação eficiente dos atores, além de uma direção competente de Martin Hodara, E no fim da sessão você certamente irá se perguntar: até que ponto as relações humanas podem ser tão complexas e perversas? Um convite que vale a pena ser aceito, veja “Neve Negra” e comprove, você não se arrependerá.
Por: Cesar Augusto Mota