Desde outubro na Netflix, a terceira temporada de “Black Mirror”, série escrita por Charlie Brooker, promete fazer o espectador ficar ainda mais impressionado e perceber que existe um espelho capaz de escancarar os defeitos e vulnerabilidades da nossa sociedade. Além disso, a tecnologia não é responsável pelos resultados bons ou ruins por nós vivenciados, mas da maneira como aproveitamos os recursos presentes nela.
Composta por seis episódios, “Black Mirror” ilustra novas sensações e experiências, com uma linguagem rebuscada, roteiro que manipula as emoções e um alerta para os rumos que podemos tomar, às vezes sem volta. São enredos e personagens diversificados, mas tramas que trazem questões filosóficas e críticas sociais sobre temas do cotidiano, sem perder a conexão com o mundo digital, com boas e más surpresas.
Estamos inseridos em um mundo no qual as aparências e os conceitos que as pessoas têm sobre nós nas redes sociais são mais valorizados do que somos realmente. Além disso, as relações humanas andam cada vez mais estremecidas e distantes e com uma maior proximidade entre homem e máquina. Percebemos tudo isso nos dois primeiros episódios, “Perdedor” e “Versão de Testes”, nos quais a avaliação e a imagens que os personagens passam são importantes para eventos futuros e um jogo de realidade virtual que acaba por afastar mãe e filho e provoca a morte deste por um defeito causado por celular.
E quem não tem um fato que possa desabonar sua reputação e tem medo que tudo seja revelado ao descobrir que foi alvo de hackers? Isso ocorre com Kenny no episódio “Cala a Boca e Dança”, que mostra o desespero e agonia de um jovem que trabalha numa rede de fast foods e faz de tudo para que um vídeo onde aparece, gravado da câmera de seu computador por meio de um vírus, não vá parar nas mãos de parentes e amigos. Vale tudo para preservar a imagem, e terá que cumprir várias tarefas que recebe por mensagens no celular, até mesmo assaltar um banco ou mesmo duelar com outra pessoa até a morte. A lição que temos é que não é a tecnologia que pode nos destruir, mas a forma como a utilizamos e os atos que praticamos, os seres humanos podem ser autodestrutivos.
E quem não preferiu viver no mundo virtual em detrimento do real? No episódio “San Junipero” boa parte das pessoas torce para que as personagens Yorkie e Kelly fiquem juntas no plano imaginário, tendo em vista que são lindas e jovens, e na realidade estão doentes e idosas, e Kelly em estado vegetativo. Pode parecer mais fácil o plano digital, tendo em vista as adversidades do mundo real e a existência de uma felicidade artificial, tal como vemos com as pessoas que cultuam o belo e assumem outras personalidades nas redes sociais, seria uma forma de escapar dos problemas, viver em estado vegetativo e sem movimentos, como está Yorkie em um hospital e prestes a ter seus aparelhos desligados. Muitas vezes fugimos da realidade e preferimos viver num mundo fantasioso.
“Black Mirror” não tem como proposta olhar para o futuro, mas tratar do presente e ligar a tecnologia a temas atuais, bem como alertar para as consequências do seu mau uso. Em comparação à temporada anterior, a abordagem é mais otimista, mas a realidade ilustra que os seres humanos ainda estão vulneráveis e podem ter destinos sombrios, a depender de suas escolhas. Sinal de alerta ligado.
Por: Cesar Augusto Mota