Cercado por polêmicas, principalmente por conta do protesto realizado pelo cineasta Kléber Mendonça Filho e todo o elenco contra o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef em Cannes, o filme “Aquarius” traz importantes reflexões e uma excelente fotografia.
A história gira em torno de Clara (Sônia Braga), uma jornalista e escritora aposentada que mora num antigo edifício de frente para a praia de Boa Viagem, no Recife. Lá ela criou os três filhos e viveu ao lado do marido longas jornadas, tendo inclsive vencido uma luta contra o câncer. Mas Clara terá que resistir a várias investidas de uma construtora que quer derrubar o edifício Aquarius e erguer um mais moderno.
A reposição do velho pelo novo, a preservação da memória e do patrimônio, o assédio e a intolerância, essas foram as questões exploradas por Kleber Mendonça em “Aquarius”, além de ter contado com a atuação de grande elenco, principalmente de Sônia Braga, que há quinze anos estava longe das telonas.
Será que para algo novo ter espaço é necessário destruir o antigo? E como ficam as lembranças? Essas perguntas nos fazemos durante o desenrolar da narrativa e tudo isso se passa na cabeça de Clara. A protagonista defende com unhas e dentes seu direito de permanecer no local onde fincou raízes e se dispõe a mostrar que tem razão de todas as formas, mesmo que precise ir até as últimas consequências.
A problemática vai muito além do dinheiro, se trata de uma vida naquele prédio, que Clara não hesita em defender. Vemos uma mulher guerreira, culta, segura, desprovida de preconceitos e que luta contra todos os tabus que a sociedade impõe sobre pessoas de sua idade. Assim é Clara, interpretada com muita verdade, solidez e brilho por Sônia Braga.
Não se pode esquecer também da importância da família, com as reuniões na casa de Clara, as vistas a fotos antigas, bem como os momentos de escuta a músicas em antigos Lps e que marcaram grandes momentos do núcleo familiar de Clara. Tudo foi muito bem retratado, e a trilha sonora foi excepcional, com referências históricas e emocionais. A fotografia é excelente e mostra bem a amplitude do apartamento de Clara e as belezas e fases da praia de Boa Viagem.
Pode-se concluir que “Aquarius” ilustra o atual momento vivido no Brasil, cercado de intolerância, ódio, preconceitos e bastante dividido, mas o filme não perde a essência da beleza, da nostalgia e das doces lembranças da vida, tudo isso personificado em Sônia Braga, que teve uma volta triunfal ao cinema. Um verdadeiro brinde aos amantes da sétima arte.