
Temos um concorrente à altura de Relatos Selvagens e Ida: Leviatã. O filme russo tem grandes chances de levar a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, apesar da nossa torcida pelos hermanos. O Globo de Ouro ele já levou.
O filme é crítico com o governo russo e seus trâmites como burocracia e golpes sujos para conseguir o que quer através do drama de um homem que vê sua propriedade em risco porque o prefeito quer desapropriá-la ou comprá-la para construir algo maior ali.
O pai de família, Kolya, recorre a um advogado amigo de Moscou que tenta a todo custo que ele ganhe a causa. Só que o advogado se envolve com a esposa dele. Já havia ali um drama familiar porque seu filho Roma não gosta da mulher e sempre a repele. Com a descoberta da traição após um churrasco de aniversário de um amigo, o drama só tende a aumentar.
Lilya pensa em deixar Kolya, mas o advogado não deixa. O prefeito corrupto acaba por dar uma surra nele e ele vai embora e larga o caso de Kolya.
É notório no filme também as críticas à Igreja pois o prefeito é um cristão ortodoxo devoto, que vai à missa e comunga. Também a fuga dos personagens no álcool, especificamente a vodka. E o contraste do que virou a Rússia de Putin hoje: navios quebrados, carcaças de animais, trilhos de trens desfeitos. E, mesmo assim, há toda a beleza das paisagens naturais do Ártico, perto do Mar de Barrents. O filme também deveria concorrer à fotografia.
Há um paralelo da trajetória de Kolya com a história bíblica de Jó. Quando ele encontra o padre local na venda onde ele costuma fazer compras e o questiona sobre Deus e a Fé já que a mulher dele morreu e toda a tragédia se abateu sobre a família dele. O padre cita Jó como uma ratificação dessa metáfora com a vida de paciência e provação de Kolya. E cita também o monstro Leviatã nessa abordagem. O título do filme Leviatã se refere ao monstro marítimo que aparece na história de Jó e que foi retratado pelo economista Thomas Hobbes como sendo o Estado: soberano, absoluto e imponente.
Interessante que no churrasco à beira do lago em que Pasha, o policial amigo de Kolya, mostra os quadros de Lênin, Gorbatchev e outros ícones russos. Menos Putin, o atual presidente. E o aniversariante diz que ele devia ter o quadro de Yeltsin, naquele arsenal.
No final, Lilya é assassinada e seu corpo jogado no mar: golpeado na cabeça e estuprada. E acusam Kolya do assassinato pois encontram o martelo usado no galpão da casa dele. Era tudo que o prefeito queria: que ele fosse condenado, o que aconteceu, sem provas contundentes, e ficasse quinze anos na prisão.
O lugar onde era a casa de Kolya vira uma igreja ortodoxa e o prefeito tem planos de fazer um refeitório nas redondezas e ampliar o local.
O diretor Andrey Zvyangsey foi muito feliz na concepção de seu filme e ele é favoritíssimo a levar a estatueta para a Rússia.
Super recomendo a todos!



