Resenha de “Nebraska”
Por Flávia Barbieri Soares
O filme conta a história de um senhor rabujento (Woody Grant) que após receber uma propaganda pelo correio, informando que ele era ganhador de uma quantia em dinheiro, sai em busca de sua fortuna. Compadecido pelo pai teimoso, seu filho mais novo (David Grant) resolve levá-lo ao lugar especificado na carta. Essa é a base para uma aventura entre família, amigos e lembranças do passado.
A intensidade do filme já começa pelo tipo de película e coloração escolhidas pelo diretor. O filme se passa todo em preto e branco. Diferente de outros diretores que utilizaram o recurso para enfatizar uma história antiga ou acentuar uma cor específica (como no “A lista de Schindler”, de Spielberg), Alexander Payne optou pela coloração monocromática para demonstrar uma imensa sutileza. O filme é isso! Extremamente sutil! Com sentimentos avassaladores que todo ser humano que já conviveu com uma família será capaz de entender.
Bruce Dern (Woddy Grant) tem uma atuação brilhante, de uma sinceridade tão extrema que é capaz de amolecer o mais duro dos corações. A postura, a forma de andar, o cabelo sempre desarrumado ajudaram na construção de um personagem que exala ternura, embora seja sobremaneira amargo e aflitivo. Uma pessoa em busca de um objetivo para uma vida enfadonha e amagurada.
Will Forte (David Grant) traz o equilíbrio de um personagem ao mesmo tempo envolvente e cativante, num tom certo de comicidade que poucos atores conseguiriam. June Squibb (Kate Grant), a esposa de Woody, é a irreverência do filme. Suas falas são inesperadas e sem escrúpulos, como alguém que já viveu demais para se impor limites.
A viagem em busca do prêmio é fio principal que liga todos os personagens. Nessa viagem, Woddy passa por sua cidade natal, revê amigos de infância, alguns primos e decide resolver algumas questões antigas com seu ex-sócio. O elo entre a família nunca se quebra, e no final, esposa e filhos estão, de certa forma, participando de sua aventura pessoal.
Escrito por Bob Nelson, o filme não tem um ápice, é uma história linear com momentos graciosos e sedutores das relações que ligam pai, filho, e toda aquela família. É a sutileza que torna o filme especial. A sutileza de sentimentos tão esplendidamente interpretados, que os atores quase conseguiram transformar personagens em pessoais reais.
O filme está, com mérito, concorrendo a 6 (seis) Oscars, incluindo melhor filme. Bruce Dern concorre a estatueta por melhor ator principal. June Squibb foi indicada com melhor atriz coadjuvante.
Já Bob Nelson está concorrendo por seu roteiro impecável e Alexander Payne por sua direção criativa e vaporosa. O filme ainda concorre por melhor fotografia.
Nebraska” é um filme eterno, para assistir, refletindo sobre as relações peculiares que envolvem nossa vida e sobre as escolhas que fazemos em relação a nós mesmos e aos outros.