MULETA SOCIAL
O esporte é fantástico para o cinema. Filmes que envolvem as atividades em si muitas vezes também as utilizam como muleta para apresentar questões extremamente sociais. Exemplos não faltam de filmes que relacionaram a vida cotidiana ao esporte. Muitos deles não buscaram ser diretos quanto ao tema, e sim o utilizaram como uma muleta.
Três produções que envolvem uma rotina social com o esporte, mais especificamente com o futebol, são Will, filme inglês da diretora (americana) Ellen Perry, Gol! – O Sonho Impossível,
estadunidense de Danny Cannon, e O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, brasileiro, dirigido por Cao Hamburger.
Will retrata nada mais, nada menos que a final da UEFA Champions League 2004/05, a mais emocionante de todos os tempos, onde o Milan abriu 3 a 0 no primeiro tempo, o Liverpool
empatou em 3 a 3 no segundo e nos pênaltis conquistou a taça que parecia impossível. História batida para qualquer fã mínimo do futebol.
Na produção inglesa, Will é um garoto fanático pelo Liverpool, que perde o pai e foge do orfanato para realizar seu sonho, que havia programado junto de seu babbo: ver a partida
entre sua equipe e o Milan na Turquia. Ele é procurado e passa por momentos fantásticos, duros, difíceis, mas encontra Alex, um ex-jogador iugoslavo que parou de atuar por conta da
guerra civil, e que o ajuda. Os dois escrevem o contexto de amizade, uma história fraternal, que mostra que na vida podemos virar o jogo e vencer como o Liverpool na realidade, defendendo-nos como fez o arqueiro Dudek, o nome do jogo.
Já Gol! – O Sonho Impossível é um dos mais conhecidos filmes futebolísticos da história, tanto que ganhou duas continuações, formando uma trilogia. A história que se passa é a de Santiago
Muñez, um rapaz mexicano que vivia clandestinamente com a família em Los Angeles. Com talento incrível para o futebol, ele é observado pelo ex-jogador Glen Foy, que o leva para um teste na Inglaterra, com o Newcastle.
No início, o pai de Santiago, um homem duro, não aceitou, e ainda roubou as economias do filho para pagar a passagem à Inglaterra, para comprar uma caminhonete. Mas a vó de
Santiago o ajudou. Ele vai para a Europa e enfrenta inúmeras dificuldades: joga mal em condições adversas, sofre com sua asma, noitadas ao lado de um astro, seu pai morre. Mas
Santiago bloqueia tudo isso, e dá mais uma lição de virada de jogo, para mostrar ao espectador que a vida de jogador de futebol não é fácil, faz ainda a estrela Gavin Harris se tornar um homem bom, e marca o gol da classificação do Newcastle para a Champions.
Outra história conhecida facilmente por qualquer fã de futebol. Uma pessoa minimamente interessada pelo esporte já assistiu a esse filme, dos maiores sucessos futebolísticos, repetindo, nas telonas, por isso dei-me o direito de contar de forma mais profunda o enredo
da trama.
O último dos três filmes que abordarei nesta coluna é talvez o menos relacionado ao futebol: a fantástica produção O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias. Confesso que também o escolhi para entrar no texto por conta da política que o envolve, outro tema do qual gosto muito de falar.
O enredo tem como foco central Mauro, um garoto que do dia para a noite vê sua vida mudar
com seus pais “saindo de férias”. Na verdade, em tempos de ditadura militar, seus pais estavam fugindo por serem militantes da esquerda. Ele vai morar com o avô, mas o perde logo
em seguida, passando a viver com um vizinho. É mais um que passa por poucas e boas, e como fanático por futebol, se vê na condição de torcedor: pela seleção de 1970 na Copa do Mundo do México.
O filme é uma mistura de sentimentos, e o futebol proporciona a Mauro, entre tantas tristezas da vida conturbada, uma alegria, a de ver o time campeão. Mas devemos sempre lembrar que
isso foi o ápice ditatorial em nosso Brasil, no pior momento de sua história, que passou nos anos de repressão. As vitórias esportivas aumentaram ainda mais os pensamentos ufanistas,
como o famoso “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Além da seleção, o pugilismo era muito bom à época e Emerson Fittipaldi mudou a cara do esporte a motor tupiniquim com títulos na
Fórmula 1.
Nesse último caso, vimos além do esporte como muleta social no cinema, o colunista utilizando o filme como muleta para falar de política. Realmente não sei por que o fiz. Talvez para me libertar disso.
Mas conclusão: os três filmes mostram o esporte. Os dois primeiros de forma totalmente direta; o terceiro, indireta para se ligar à política, ao Brasil da ditadura. Três filmes recomendados, excelentes.
Não é fácil fazer esporte na vida real, e no cinema não é diferente. Se essas produções estão aqui, é porque merecem. Superaram as dificuldades e os preconceitos do trato esportivo cinematográfico. Foram bem!
É isso.
Obrigado pela visita à minha coluna aqui no Poltrona de Cinema!
Voltamos com mais…