
Esse ano, os candidatos ao Oscar são de categorias bem diferenciadas. Seja na abordagem do tema, na apresentação da narrativa, nas surpresas ao longo da história, os filmes têm cativado a audiência com abundante inovação. Jojo Rabbit não é diferente.
Jojo Rabbit é surpreendentemente corajoso ao criar um cenário cômico dentro do ambiente lúgubre da Segunda Guerra Mundial; e ainda trabalha com o riso – ainda que de forma sinuosa – com uma das figuras mais monstruosas da história.
O protagonista é um menino de dez anos, Jojo Rabbit (Roman Griffin Davis), hesitante em busca de uma figura paterna, que ele encontra em seu amigo imaginário, o Führer. Tal personagem passeia ora entre os sentimentos infantis de Jojo, ora em forma de guia repleto de inspiração. Waititi, com sua performance encantadora, consegue traduzir a necessidade auto-projetada de uma criança perdida em meio à guerra e a um mundo que ele ainda não conhece verdadeiramente.
O lado sombrio do personagem vai se mostrando à medida que a percepção de Jojo pelos acontecimentos e pela imagem de seu “herói” começa a mudar. Ele, então, se transforma num personagem desagradável, com nuances muito bem elaboradas.
O Führer se torna uma metáfora quase palpável de que as referências e o discernimento mudam no momento em que amadurecemos dentro de nós, as nossas percepções sobre o mundo.
As cenas em que Jojo descobre o grande segredo da mãe, que guarda uma garota judia nas paredes da casa são a combinação perfeita entre angústia e terror, numa sequência inteligente e bem estruturada.
A interpretação da menina Elsa (Thomasin McKenzie) é de uma força avassaladora. Elsa é a figura questionadora que desdenha dos preconceitos assumidos por Jojo. McKenzie interpreta a personagem com uma incrível integridade, trazendo para o filme a profundidade inteligente que constitui toda a narrativa. Os diálogos fumegam inquietude e raiva.
No entanto, ainda que o filme faça jus à sua indicação, em alguns momentos podemos constatar um desequilíbrio desconfortável entre a grandiosa interpretação de Waikiki e os nazistas rebeldes Rebel Wilson e Sam Rockwell, que não se enquadram nesse acervo cômico.
O centro da história se compõe pela vulnerabilidade do protagonista Jojo. Roman Griffin Davis realmente convence como criança assustada, amadurecendo sua percepção da vida, crescendo em um mundo caótico. Existe uma polifania entre a criança ingênua e aquela que começa a descobrir as verdades da vida, o que torna o filme suave e denso ao mesmo tempo.
Com tantos concorrentes vigorosos, Jojo Rabbit não está entre as predileções para a categoria de melhor filme. Mas fica o lembrete de que uma história bem construída e criativa pode chegar muito longe.
O filme foi indicado as categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante para Scarlet Johansson, Melhor Roteiro Adaptado para Taika Waikiki, Melhor Figurinho para Mayes C. Rubeo, Melhor Direção de Arte para Ra Vicent e Melhor Montagem para Tom Eagles.
Sinopse: Johannes ‘Jojo’ Betzler (Roman Griffin Davis) é um garoto alemão de dez anos que cresceu na Alemanha nazista idolatrando Adolf Hitler e tem um amigo imaginário em forma de Führer (Taika Waititi).
No entanto, quando ele descobre que sua mãe (Scarlett Johansson) está abrigando uma garota judia chamada Elsa (Thomasin McKenzie) em sua casa, sua percepção sobre Hitler e sobre a guerra começa a mudar.