Maratona Oscar: O Tigre Branco/Anna Barros

Maratona Oscar: O Tigre Branco/Anna Barros

Você começa assistindo pensando ser uma nova versão de Quem quer ser um milionário e vê que não é. O Tigre Branco conta a trajetória de um indiano que quer vencer na vida e começa como um motorista sendo sempre fiel aos patrões e se metendo em encrencas, chegando a assinar uma confissão de atropelamento, sendo que a culpada era a mulher do patrão.

O filme mostra todas as mazelas da Índia mas com um roteiro muito interessante e intrincado, tanto que concorre ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. A Índia vive nesse sistema arcaico de castas e vemos diferenças abissais entre as classes sociais mas Balram não desiste de seu sonho mesmo com todas as agruras e humilhações. Ele acaba se dando bem no Vale do Silício Indiano, Bangalore.

A fotografia é belíssima com todos aqueles contrastes da capital Nova Deli e dos vilarejos paupérrimos.

Pode, sim, beliscar o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Ganhou o Bafta de Melhor Ator para Adarsh Gourav.

Disponível na Netflix.

Sinopse: Baseado no best-seller do New York Times, O Tigre Branco conta a história de Balram Halwai (Adarsh Gourav) e sua ascensão meteórica de aldeão pobre a empresário de sucesso, na Índia moderna. Astuto e ambicioso, nosso jovem herói consegue se tornar o motorista dos milionários Ashok e Pinky, que acabam de retornar da América. Tendo a sociedade o treinado para uma única função – a de servir – Balram tornou-se indispensável aos olhos de seus ricos patrões. Contudo, após uma noite de traição, ele entende o quão longe esses senhores estão dispostos a ir para se protegerem. Prestes a perder tudo, Balram se rebela contra um sistema fraudulento e desigual, buscando, de vez, sua autonomia.

Maratona Oscar: Destacamento Blood/Paula Hermógenes

Maratona Oscar: Destacamento Blood/Paula Hermógenes



Spike Lee sendo Spike Lee.

Curiosamente, não sou fã de Spike Lee desde Faça a Coisa Certa.  Provavelmente porque na época não tinha maturidade para entendê-lo.

Com uma filmografia interessantissima, diversa e polêmica, Spike me ganhou com “Infiltrado na Klan” – roteiro espirituosíssimo, genial mesmo.  Eis que menos de um ano depois veio Destacamento Blood.

Antes de irmos ao filme, explico como cheguei a ele.

Resido na Inglaterra – onde tivemos um lockdown de verdade, uma 2a onda da pandemia mas verdadeira ainda e, durante todo esse periodo, Netflix e Amazon Prime foram fieis companhias.   Um belo dia, passeando pelas indicações de lançamentos mais assistidos no UK, reparei que “Da 5 Blood” era de Spike.  Fui direto ao ponto, quer dizer, ao filme!

Devo acrescentar que não sou fã de filmes com temática de Guerra e, que a Guerra do Vietnã não fez parte nem do meu curriculo escolar, já que tive minha educação no Brasil e nem de minha vivência pessoal.  No entanto,  recentemente, o UK havia passado e volta e meia repassa, por debates polêmicos relacionados à discriminação de imigrantes (caribenhos, africanos ou sul-asiáticos) que utilmente serviram ao Império Britânico em diversas guerras pelo mundo.  Logo no início do filme, o recado foi dado…negros e outras minorias enviados ao Vietnã como contingente descartável.  Ali, o filme me fisgou.

De forma ágil e bem humorada, o filme conta uma história afro-americana pouco conhecida e distante do Capitão América.   A história em si é ficçao, mas o fundamento histórico é claro e bem contado. Os diálogos e algumas atitudes contestáveis refletem o passado injusto.  Então Spike sendo Spike:  o filme é uma ótima ficção baseada em fatos reais ou mais ainda: ficção que repara os efeitos de fatos reais em uma geração inteira.

O filme, por fim, nao é um filme de Guerra, mas um manifesto contra um racismo arraigado e secular.  Reconta fatos que de certa forma mancham a reputação americana, que expõem o quão dividida a America realmente é.

O roteiro contou com quatro editores seguindo a formula de sucesso de Infiltrado na Klan.  A oito mãos, Spike promove um revisionismo histórico. Ironicamente, o filme foi lançado em pleno governo Trump e meses antes do episódio George Floyd – que exibiu o quão desigual e racista a nacao ainda é, uma geração inteira após o fim da Guerra do Vietnã.  No fundo, o filme mostra exatamente isso: a escravidão tomou novas formas em uma sociedade que segue essencialmente desigual.

Curiosamente, o filme teve muitos criticos ferrenhos.  Uma chance para o leitor adivinhar a etnia e posicionamento politico destes.  Enfim, o mundo segue mudando.  Novo governo, novas crencas, novos posicionamentos.  Que o resultado recente do julgamento do caso George Floyd ajude a transformar a sociedade americana e, que nao precisemos de mais Spikes e seus filmes no futuro.  E, principalmente, que nao tenhamos mais “Georges” mortos.

Maratona Oscar: A Voz Suprema do Blues/Anna Barros

Maratona Oscar: A Voz Suprema do Blues/Anna Barros

Um filme lindo, sublime com atuações esplendidas de Chadwick Boseman, in memoriam, e Viola Davis. Ambos concorrem na categoria de Melhor Ator e Melhor Atriz. Chadwick teria como rival Gary Oldman de Mank e Viola, Frances Mcdormand de Nomadland.

Em meio aos anos 20, regado pelo som do blues e com o racismo disfarçado de boas intenções, o longa se passa no espaço de uma tarde de calor em Chicago, durante a gravação de um álbum da cantora Ma Rainey (Davis, praticamente irreconhecível no papel). A personalidade forte da artista pode ser percebida desde os primeiros momentos do filme, quando se apresenta no palco ao lado de sua banda.

Ma quer colocar o sobrinho para gravar uma música enquanto se relaciona com uma menina que acaba se apaixonando por Levee, vivido por Chadwick Boseman. Os monólogos de sofrimento e desespero de Levee são potentes porque ele está no grupo mas quer fazer carreira solo, vende suas canões para o dono da gravadora e quer parar com isso. Discute com os componentes da banda e quer sugerir a sua música para Ma Rainey, o que ela rejeita. Ela se impõe com patrocinadores e com a gravadora mas mesmo assim se vê um racismo velado com Levee.

O filme se parece muito com uma peça de teatro em seu ritmo e emociona. A história se baseia em fatos reais mas o roteiro se permite um recorte para discutir o racismo estrutural no meio artístico.

Acho barbada Chadwick levar o Oscar apesar de minha torcida ser por Gary Oldman, de Mank e creio que Viola vai disputar pau a pau com Frances por Nomadland. Viola ganhou o SAG de Melhor Atriz. Sua atuação é esplendorosa, emocional e visceral.

O filme me tocou muito. Vale muito a pena ver, ainda mais com um final surpreendente para Levee.

Disponível na Netflix.

Maratona Oscar: Soul/Bruna Zordan

Maratona Oscar: Soul/Bruna Zordan

Como em todos os filmes da Pixar, Soul é mais uma produção cheia de mensagens profundas e que fazem o público sair fora da caixa. Para começar, o filme conta a história de Joel, um músico frustrado que dá aula de música para o ensino médio e é apaixonado pelo jazz. Porém, essa não é a vida que ele sempre sonhou. Um belo dia, Joel acaba morrendo (não é spoiler, ok?) e tem a missão de ajudar a personagem 22, a achar a sua paixão durante sua vida. Um trabalho que acaba virando um desafio tanto para Joel quanto para a 22. 

A mensagem é repassada de diferentes formas e entendimentos. Perguntas como: “Qual é o meu propósito?”, “qual é a minha paixão?”, “será que estou tão focado em algo e não consigo enxergar as coisas ao meu redor?”. Soul te faz repensar na sua vida e aonde você quer chegar. Como o próprio personagem principal que estava tão frustrado que, de certa forma, não atingiu uma meta que queria, e acabou esquecendo de outros detalhes dentro da sua paixão, no mundo do jazz e tudo que gira em volta. E por outro lado, a 22, uma personagem que não possui propósito na vida por achar que precisava descobrir sua paixão e seguir sua carreira. São dois personagens com objetivos diferentes, mas que acabam compartilhando o mesmo sentimento. Porém, não é um filme sério. Soul consegue te arrancar boas risadas, mostrando a beleza e os detalhes dos personagens. Além de apresentar outras figuras importantes na vida de Joel e da 22.

Um filme para assistir com a família ou sozinho. Para repensar no seu propósito ou até para afirmar o que tanto deseja na sua vida. Mas mais que isso, para não esquecer os pequenos detalhes que podem mudar totalmente a sua visão no que almeja alcançar. Sem dúvidas, o filme Soul é favorito na categoria “Melhor Animação”, no Oscar. 

Por Bruna Zordan

@brubszordan

Maratona Oscar: Shaun-O Carneiro-A Fazenda Contra-Ataca/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Shaun-O Carneiro-A Fazenda Contra-Ataca/ Cesar Augusto Mota

O cinema é capaz de proporcionar as mais diversas emoções nos espectadores, seja com a retratação de histórias reais, imaginárias ou pela realização de narrativas fictícias com elementos concretos. O stop-motion, feito com massa de modelar, é um recurso em potencial para mostrar histórias dinâmicas que se passam no mundo da fantasia, e é o que ocorre com ‘Shaun-O Carneiro: A Fazenda Contra-Ataca’, um forte concorrente na nova temporada de premiações.

Acompanhamos o simpático carneiro Shaun, que leva uma vida pacata em uma fazenda, até que ele encontra Lu-La, uma criatura extraterrestre. Os dois vivem situações divertidas e inusitadas, mas Shaun vai ter de se desdobrar para se desvencilhar de Bitzer, o cão-pastor, e a agente Red, e ajudar seu novo amigo a reencontrar a sua família e voltar para casa. A cientista, líder do Ministério de Detecção de Alienígenas (M.D.A) e seu assistente-robô, estão dispostos a provar que existe vida fora da Terra e ficam no encalço de Lu-La o tempo todo.

Mesmo sem diálogos, a animação tem o mérito de conseguir prender a atenção do público infantil e adulto graças à dinâmica existente entre os personagens e o aproveitamento de suas características e cenários da história. Há claras referências à grandes obras da sétima arte, como o filme ‘MIB-Homens de Preto’, ‘E.T’ e as séries ‘Stranger Things’ e ‘Arquivo X’, num misto de aventura e ficção científica. Há um importante choque entre culturas e uma pergunta que já esteve na mente de muita gente: existem mesmo seres de outros planetas? Tudo é trabalhado com muito cuidado e com boas doses de humor.

Além da história, a caracterização dos personagens também impressiona, com o stop-motion bem elaborado, movimentos sincronizados e um ótimo jogo de luzes. O espectador se depara em várias cenas com ambientes alegres e compreende o que cada quadro quer mostrar, se esquecendo da falta de diálogos na narrativa. Com uma estética cartunesca, ‘Shaun-O Carneiro: A Fazenda Contra-Ataca’ fisca crianças e adultos, mesmo com um assunto explorado em diversas ocasiões, como aliens e contatos de terceiro ou até mesmo de quarto graus, e consegue proporcionar muita diversão e risadas.

E não pense que a animação tem a ver com o clássico Episódio V de Star Wars, o Império Contra-Ataca. O título no Brasil foi um trocadilho proposital para introduzir a ideia de uma aventura espacial. E temos mais que isso, há também humor de qualidade, uma bela representação estética e uma história agradável de se acompanhar, para todas as idades.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota