‘O Animal Cordial’, filme de terror nacional, ganha classificação indicativa de 18 anos

‘O Animal Cordial’, filme de terror nacional, ganha classificação indicativa de 18 anos

Dirigido por Gabriela Amaral e produzido por Rodrigo Teixeira o filme estreia dia 9 de agosto nos cinemas

O ANIMAL CORDIAL, de Gabriela Amaral Almeida, acaba de receber classificação indicativa, proibido para menores de 18 anos. O elenco conta com Murilo Benício, Luciana Paes, Camila Morgado, Irandhir Santos e Humberto Carrão, e estreia nos cinemas dia 9 de agosto, com produção da RT Features. O filme, que é é uma fábula violenta sobre o desejo na sociedade e aborda também a violência urbana, recebeu essa classificação por conter cenas de sexo, violência extrema e linguagem imprópria.

Sobre a classificação indicativa recebida, a diretora concorda mas acrescenta: “Isso tira a oportunidade de que o público jovem tenha acesso a um gênero que está em formação no Brasil. Já que ​o cinema não é mais a única forma de acessar conteúdos audiovisuais, a maioridade cinematográfica deveria ser 16 anos”.

O filme é uma fábula violenta sobre desejo na sociedade brasileira. O ANIMAL CORDIAL é o primeiro slasher movie (subgêneros do terror, caracterizados, dentre outras marcas, pelo uso de violência gráfica extrema) dirigido por uma mulher no Brasil. O longa deu a Murilo Benício o prêmio de Melhor Ator no Festival Internacional de Cinema do Rio, em 2017, e os prêmios de Melhor Atriz e Melhor Diretora para Luciana Paes e Gabriela Amaral Almeida no FantasPoa 2018.

A história se passa em uma única noite em um restaurante de classe média alta em São Paulo que é invadido, no fim do expediente, por dois ladrões armados. O dono do estabelecimento, o cozinheiro, uma garçonete e três clientes são rendidos e precisam lidar com a situação. O local torna-se palco dos mais diferentes embates: empregados x patrão; ricos x pobres; homens x mulheres; brancos x negros. Civilização e barbárie: os dois conceitos se alternam na claustrofobia de um espaço, que vai sendo desconstruído à medida que soluções “cordiais” se tornam impossíveis.

SINOPSE

Um restaurante de classe média em São Paulo é invadido, no fim do expediente, por dois ladrões armados. O dono do estabelecimento, o cozinheiro, uma garçonete e três clientes são rendidos. Entre a cruz e a espada, Inácio – o homem pacato, o chefe amistoso e cordial – precisa agir para defender seu restaurante e seus clientes dos assaltantes.

TRAILER

SOBRE A DIRETORA

O ANIMAL CORDIAL é o primeiro projeto de longa-metragem de Gabriela Amaral Almeida. Diretora, roteirista e dramaturga, Gabriela é Mestre em literatura e cinema de horror pela UFBA (Brasil) com especialização em roteiro pela Escuela Internacional de Cine y TV (EICTV) de Cuba. Escreveu (e escreve) para outros diretores, como Walter Salles, Cao Hamburger e Sérgio Machado. Como diretora, realizou os curtas “Náufragos” (2010, co-dirigido com Matheus Rocha), “Uma Primavera” (2011), “A Mão que Afaga” (2012), “Terno” (2013, co-dirigido com Luana Demange) e “Estátua” (2014). O conjunto de seus curtas foi selecionado para mais de cem festivais nacionais e internacionais, tais como o Festival de Cinema de Brasília, o Festival Internacional de Cinema de Roterdã, o Festival de Curtas de Nova York, dentre outros. São destaque os prêmios recebidos por algumas destas obras, como os prêmios de melhor roteiro, melhor atriz (para Luciana Paes) e prêmio da crítica no 45o Festival de Cinema de Brasília para “A Mão que Afaga”, e os prêmios de melhor atriz (para Maeve Jinkings) e melhor roteiro para “Estátua!”, no mesmo festival, dois anos depois. Com o seu projeto de longa-metragem “A Sombra do Pai”, foi selecionada para os laboratórios de Roteiro, Direção e Música e Desenho de Som do Sundance Institute. O projeto contou com a assessoria de Quentin Tarantino (“Pulp Fiction”), Marjane Satrapi (“Persépolis”), Robert Redford (“Butch Cassidy and the Sundance Kid”), dentre outros.

Seu mais recente trabalho como roteirista foi para o média-metragem “A Terra Treme”, drama ambientado na tragédia ambiental ocorrida em Mariana, Minas Gerais. Dirigido por Walter Salles, o curta integra uma antologia composta por cinco curtas, dirigidos por outros quatro diretores além de Salles: Aleksey Ferdochenko (Rússia), Madhur Bhandarkar (Índia), Jahmil X.T. Qubeka (África do Sul) e Jia Zhangke (China). O filme coletivo estreia no Festival de cinema BRICS, em Chengdu, na China, em junho deste ano (2017). Atualmente, trabalha no desenvolvimento de seu próximo longa-metragem, uma fábula de exorcismo (ainda sem título), a ser produzida também pela RT Features. Nos Estados Unidos, é agenciada pela WME.

FICHA TÉCNICA

Direção e roteiro: Gabriela Amaral Almeida
Argumento: Gabriela Amaral Almeida e Luana Demange
Elenco: Murilo Benício, Luciana Paes, Ernani Moraes, Jiddu Pinheiro, Camila Morgado, Irandhir Santos, Humberto Carrão, Ariclenes Barroso, Thais Aguiar, Eduardo Gomes e Diego Avelino
Produtor: Rodrigo Teixeira
Co-produtor: Canal Brasil
Produção Executiva: Ana Kormanski, Daniel Pech e Raphael Mesquita
Direção de Fotografia: Barbara Alvarez
Direção de Arte: Denis Netto
Figurino: Diogo Costa
Maquiagem: André Anastácio
Som Direto: Gabriela Cunha
Diretora de Produção: Thais Morresi
Montador: Idê Lacreta
Desenho de som: Daniel Turini e Fernando Henna
Trilha Sonora: Rafael Cavalcanti
Supervisor de pós-produção: Henrique Viana
Idioma: Português
Gênero: Thriller/ Slasher/ Gore
Ano: 2017
País: Brasil
Classificação: 18 anos

SOBRE A RT FEATURES

Fundada e dirigida por Rodrigo Teixeira, a RT Features é uma produtora nacional e internacional de cinema e televisão, com base em São Paulo, Brasil. Dentre outras produções, seu currículo conta com os longas-metragens: O Abismo Prateado (2010), Tim Maia (2014), Alemão (2014) e o O Silêncio do Céu (2016). No exterior, a RT Features produziu os longas Frances Ha (2013), Love is Strange (2014), Indignation (2016) A Bruxa (2016). Em 2017, a RT Features esteve com duas produções internacionais Patti Cake$ e A Ciambra (2017) na Quinzena dos Realizadores em Cannes, e com a coprodução internacional Severina (2017) no Festival de Locarno. Neste mesmo ano, a empresa produziu o novo projeto de James Gray com Brad Pitt: Ad Astra que se encontra em pós-produção. No início de 2018 estreou o primeiro longa de ficção da diretora Crystal Moselle, Skate Kitchen, no Festival de Sundance. A RT esteve também indicada aos principais prêmios do cinema com o filme de Luca Guadagnino, Call Me By Your Name (2017). Destacam-se as oito indicações no Critics’ Choice Awards, o maior número de nomeações no Independent Spirit Awards, e as indicações ao 75º Globo de Ouro e ao 90º Academy Awards, onde foi premiado com o Oscar de melhor roteiro adaptado. No segundo semestre a RT irá produzir o novo filme de Robert Eggers, The Lighthouse, com Willem Dafoe e Robert Pattinson e no Brasil o novo longa de Karim Ainouz, A Vida Invisível.

SOBRE O CO-PRODUTOR CANAL BRASIL

Canal Brasil tem um papel fundamental na produção e coprodução de longas-metragens, história que começou em 2008 com “Lóki – Arnaldo Baptista”, de Paulo Henrique Fontenelle, que mostrou a vida do eterno mutante. Agora em 2018, o canal atinge a marca de 300 filmes. Sair do campo da exibição e partir também para feitura fez com que o Canal Brasil atingisse em poucos anos uma importância imensurável dentro do cenário do cinema brasileiro recente. Entre os longas recém coproduzidos estão “Animal Cordial” de Gabriela Almeida; “Aos Teus Olhos”, de Carolina Jabor; “Canastra Suja” de Caio Soh; “Tungstênio” de Heitor Dhalia e “Berenice Procura” de Allan Fiterman.

Poltrona Cabine: Vingança/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: Vingança/ Cesar Augusto Mota

Em meio a uma enorme onda de escândalos envolvendo abusos e assédio sexual, está prestes a ser lançado um filme que toca nesses pontos e outros importantes e cada vez mais debatidos na nossa sociedade, como o empoderamento feminino e a violência contra a mulher. De quebra, elementos como muita nudez, violência e conteúdo gore, contido no subgênero terror, como muito sangue e vísceras humanas à mostra. Da estreante diretora Coralie Fargeat, ‘Vingança’ (Revenge) produção francesa filmada no Marrocos, traz Matilda Lutz (O Chamado 3) como protagonista em uma narrativa envolvente e ao mesmo tempo perturbadora para os espectadores.

A trama nos mostra Jen (Lutz) , uma jovem bela e sedutora que está aproveitando uma viagem romântica com Richard (Kevin Janssens,) que é interrompida subitamente pelos amigos de caça dele, Stan (Vincent Colombe) e Dimitri (Guillaume Bouchède), que chegam à casa, situada no meio do deserto, mas sem serem convidados. Após uma festa que virou o dia, com muita dança e bebida, Jen acaba por ser violentada por Stan e com a concordância de Dimitri, que nada fez para evitar o ato violento, e de quebra, Jen teve que enfrentar a ira de Richard, seu amante, resultando em um enorme ato de fúria, empurrando-a abaixo de um precipício. Mas, para o azar deles, Jen sobrevive e volta mais forte do que nunca, com sangue nos olhos e disposta a fazer vingança contra seus agressores.

O roteiro toca em assuntos pertinentes, citados no início do texto, além de quebrar um forte paradigma, de que a vítima foi culpada pelo ocorrido e que ela mereceu sofrer todo o tipo de violência e assédio. Jen, que gosta de usar roupas curtas e provocantes, em nossa sociedade seria tachada de diversos adjetivos pejorativos, mas na verdade, se tratava de uma jovem que queria apenas se divertir. Pode sua dança e seu jeito provocante terem dado a entender que ela queria seduzir e ter algo mais sério com Stan, amigo de Richard, mas não são justificativas para que a protagonista sofresse toda a violência vista durante a trama. É um filme que vem em um bom momento, após a explosão de movimentos como o ‘MeToo’ e o ‘Times Up’, voltados contra a cultura sexual e a diferença de gênero em Hollywood e advindos após a era Harvey Weinstein para fazer o homem repensar seus atos em relação a mulher.

O enredo mostra uma protagonista que inicialmente não está bem definida, mas que vai sendo construída durante a história e que sofre grandes transformações, e um elemento importante fará ela encontrar seu ponto mais alto e a trará mais energia na luta contra seus opositores. Os antagonistas, todos eles possuem uma clara postura machista, perceptível desde o início da trama e que vai se acentuar quando se derem conta que Jen sobreviveu e quando vão em sua caçada. Uma história bem estruturada, com poucos personagens, e com personalidades e desejos bem definidos, que fazem o espectador se envolver e acompanhar com toda atenção e ao mesmo tempo com angústia, pois não se sabe o que pode acontecer a cada sequência e tendo em vista a atmosfera violenta criada desde o início. As atuações são convincentes e que beiram ao verossímil.

Além do roteiro e das atuações, outros pontos altos são a fotografia e a montagem, que contribuem para o clima gore da história, com uma perfeita textura de sangue e do corte da pele, trazendo mais realismo às cenas mais violentas e uma atmosfera subversiva. O filme vai num ritmo cadenciado e sem pressa, construindo a trama e seus personagens, mas se intensifica do meio para o fim da história com muitos rastros de sangue, perseguições e planos-sequência que instigam o espectador a ficar ainda mais tenso e horrorizado com o que vê. Filmes sobre estupro e assédio contra a mulher já foram feitos por homens, e agora um novo é produzido sob uma perspectiva diferente, por uma mulher, que quebra velhos dogmas e mostra que as mulhere s estão cada vez mais fortes, são mais ouvidas e que devem ser levadas mais a sério, diferente do apresentado em filmes como ‘A última casa à esquerda ( Wes Craven), ‘Doce vingança’ (Meir Zarchi), ‘Sob o domínio do medo’ (Sam Peckinpah) e ‘Millennium: Os homens que não amavam as mulheres’ (Niels Arden Oplev).

Um filme forte, alucinante, necessário e instigante, ‘Vingança’ vem para colocar o dedo na ferida de fortes males ainda enraizados no meio social e para refletirmos sobre como podemos combatê-lo e até mesmo evitá-lo. Quem gosta de filmes com temáticas sérias e ainda curte muito sangue e cenas violentas, esse é um prato cheio, recomendo fortemente.

Cotação: 4/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota