Maratona Oscar: Visages, Villages/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Visages, Villages/ Cesar Augusto Mota

Que tal um documentário que traga uma linguagem diferente, imagética, capaz de cativar todos os públicos e com muitas histórias boas a serem contadas? Está chegando ao circuito o documentário francês “Visages, Villages”, protagonizada por dois grandes ícones da França, a cineasta Agnès Varda e o artista plástico JR. Juntos, eles vão trazer uma série de depoimentos, além de belos painéis em diversos vilarejos rurais do país.

A produção tem o estilo de um diário de viagem, no qual a dupla parte em um caminhão personalizado, estilo estúdio fotográfico, e na medida em que o veículo vai chegando a locais campestres dotados de antigas construções, depoimentos de pessoas acerca do local e de suas vidas são colhidos e todos são convidados a tirarem fotos no estúdio, com as imagens sendo ampliadas e feitas as devidas colagens nas fachadas das casas. Belíssimas obras de arte e ilustrações são apresentadas ao público e as paisagens ganham um novo significado.

Além de nos depararmos com uma grande parceria entre Agnès e JR, vemos muitas brincadeiras entre os dois e também muitas emoções transmitidas e belas histórias transmitidas pelos moradores dos diversos vilarejos visitados. A narrativa também nos brinda com excelentes narrações em off dos protagonistas, com suas impressões acerca das paisagens, da arte e da vida, além de belíssimas declamações poéticas feitas por ambos. Esse estilo de enredo não só impressiona pela novidade, como também pela beleza, tanto na paisagem, como nas palavras, autênticas obras-primas são compartilhadas com os espectadores.

Mas nem sempre predomina a harmonia durante a projeção, em dados momentos as paisagens são priorizadas e alguns depoimentos ficaram de lado, faltou um pouco de equilíbrio e uniformidade ao documentário, mas o saldo é positivo, não só o plano estético alegórico e belo pauta o documentário, como o conjunto de palavras e as atitudes dos moradores e agricultores fazem uma perfeita conexão, de que a felicidade é perfeitamente alcançável, e isso dependerá da forma como se enxerga a vida. E as colagens apresentadas durante a produção deram uma nova vida às fachadas e um novo significado para os vilarejos visitados, reforçando o espírito de persistência, de revitalização, importante na arte de contar histórias e nas lutas diárias.

Poético, alegórico, chamativo, tudo isso representa o documentário ‘Visages, Villages’. Um prato cheio aos amantes do campo, das paisagens, da poesia e fãs de histórias pessoais recheadas de aprendizado e lições de vida. Um tributo à vida e ao cinema, vale muito a pena.

Avaliação: 5/5 poltronas.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: 120 Batimentos por Minuto/ Cesar Augusto Mota

Poltrona Cabine: 120 Batimentos por Minuto/ Cesar Augusto Mota

Você que curte filmes alternativos e sempre quis ficar por dentro do cotidiano de grupos ativistas, suas constantes lutas e principais ideologias defendidas, agora irá se deparar com uma obra didática, institucional e de grande valor humanitário. ‘120 Batimentos por Minuto’, produção francesa dirigida por Robin Campillo, chega para alertar e abrir os olhos de muita gente.

A história apresenta o grupo ACT UP, fundado na França em 1989, que luta pelos direitos dos portadores do vírus HIV e defende iniciativas por melhorias no tratamento e prevenção em relação à doença. Não só o cenário da época é retratado, como também são traçados os devidos contornos, como tensões, medos dos pacientes, os preconceitos vividos por eles e os prazeres deles em seu cotidiano, apesar do terrível diagnóstico que tiveram. Tudo é mostrado de forma honesta, com muita abrangência e veracidade.

Na medida em que o filme transcorre, vamos conhecendo cada integrante do movimento, as ideologias defendidas, bem como o dia a dia de muitos deles, seus deleites, diversões e também seus amores. Tudo mostrado de uma maneira suave e que não dê margem a julgamentos, até chegar na questão central, de mobilizar as indústrias farmacêuticas e o poder público por tratamentos e medicamentos mais eficientes no prolongamento da vida dos pacientes, bem como mostrar as falhas cometidas nas redes de saúde e também no fabrico dos medicamentos. Alguns lemas são apresentados ao espectador: é preciso exigir melhora, e também é necessário prevenção contra doenças venéreas e, mais do que tudo, sobreviver.

O roteiro, como já dito, mostra uma trama regada por muitas ações encadeadas, em torno de objetos uniformes, mas em dados momentos ocorrem exageros, uso de meios ardis e agressivos, mas justificados, no caso a necessidade dos manifestantes serem ouvidos e na tentativa de acabar com preconceitos em relação à grupos de minorias e ainda enraizados na sociedade contemporânea. Apesar de alguns momentos fugirem ao controle, a intenção do diretor em levar para as telas e mostrar ao público o universo do movimento ativista e tudo o que o cerca, com simpatizantes e opositores, é bastante válido, retrata também o que a sociedade brasileira atualmente vivencia.

As atuações do elenco são harmônicas, muito coesas e conseguem imprimir sinceridade para o espectador. A fotografia, com alguns jogos de luzes em cenas noturnas, nos trazem um certo deleite e alívio, pois trata-se de uma história com muita vibração, barulho e que dá uma boa chacoalhada em quem acompanha. A montagem é precisa, e é o principal elemento para nos mostrar com eficiência as principais propostas da história, que funcionam muito bem.

Ficou curioso? Não deixe de ver ‘120 Batimentos por Minuto’, seu coração vai pulsar forte e você terá outra visão de mundo, é preciso ampliar estar alerta, mas também ampliar os horizontes.

Avaliação: 4/5 poltronas.

 

 

Por: Cesar Augusto Mota