Maratona Oscar/Poltrona Resenha: O Agente Secreto/Anna Barros

Maratona Oscar/Poltrona Resenha: O Agente Secreto/Anna Barros

O Agente Secreto começa com o professor Marcelo viajando três dias de Brasília a Recife. Ele para num posto de gasolina em pleno Carnaval e vê um cadáver estendido no posto. O frentista disse que não tinham ido buscar. Chegam dois policiais e o revistam. Depois o carro. Cria-se ali um momento de tensão. Até que ele sem ter dinheiro, dá seu maço de cigarro com três. 

Dali ele parte para o Edifício Ofir onde outros perseguidos estão. O lugar é comandado por Dona Sebastiana, brilhantemente interpretado por Tânia Maria, uma atriz nordestina fascinante. Há várias pessoas ali: um casal angolano, um jovem, uma dentista e sua filha. Marcelo se entrosa com todos e no dia seguinte vai pro seu trabalho no Instituto de Identificação. E também encontra seu filho Fernando que mora com os avós. Sua esposa havia falecido. Mas fica no ar se pela Ditadura ou por causa do empresário que acaba contratando um matador para acabar com Marcelo. 

No instituto de identificação ele quer achar a identidade de sua mãe e faz amizade apesar do jeito misterioso. Ele parece calmo mas esconde um passado de luta. 

Aí que entra seu sogro, seu Alexandre, que trabalha como projetista no cinema São Luiz. O diretor Kleber Mendonça Filho mostra a magia do cinema e a metalinguagem. O próprio Fernando é fissurado no filme Tubarão de Spielberg que pode ser uma metáfora para a Ditadura Militar. 

Nesse ínterim a lenda urbana recifense da Perna Cabeluda. Uma perna é encontrada dentro de um tubarão e depois atormenta um monte de gente na Praça Treze de Maio. Essa parte lembra um pouco a outra obra-prima do diretor: Bacurau. 

Marcelo encontra Elza e o pediatra que são da rede de proteção aos perseguidos políticos e ali sabe que querem matá-lo. Esse encontro acontece no São Luiz. 

O filme tem um ótimo roteiro, muito bem dirigido e Wagner Moura como Marcelo está fantástico. Todos os atores crescem com ele e todos estão maravilhosos. O filme é sensível e profundo mesmo tratando de uma Recife de 1977 sob o véu da Ditadura. A parte do Carnaval é um bálsamo. Chorei muito principalmente na parte que seu Alexandre, o sogro dele, pergunta se a filha Fátima falou tantas coisas boas a seu respeito e no final. 

É um filme que fala de memória, de lembranças sob um contexto político subliminar ali. Kleber deixa tudo para que vc tire suas conclusões e reflita muito. É uma ode de amor a Recife, terra natal de Kleber Mendonça Filho e ao cinema. Com o pano de fundo da Ditadura Militar, época mais sombria da nossa história. 

Recomendo ver também o doc Retratos Fantasmas também de Kleber. Na Netflix. 

Arrisco dizer que concorrerá a pelo menos três Oscars: Filme, Internacional e Ator. E ainda pode beliscar outros como Roteiro Original e Montagem. Um filme que precisa ser visto por todos os brasileiros. Orgulho mais uma vez do Cinema Nacional. 

Deixe um comentário