Maratona Oscar: Os Fabelmans/ Gabriel Araujo

Maratona Oscar: Os Fabelmans/ Gabriel Araujo

“Os Fabelmans”, novo filme de Steven Spielberg, é excelente. Emocionante. Extremamente pessoal. E, creio, um enorme candidato a vencer alguns dos principais prêmios do Oscar este ano – incluindo o de melhor filme e melhor direção. Spielberg nos brinda uma novidade para sua carreira, um longa autobiográfico, e o faz com a excelência de sempre do diretor de obras máximas como “E.T.” e “O Resgate do Soldado Ryan”.

Spielberg basicamente recorda sua infância e juventude na pele de Sammy Fabelman, a criança que vemos cultivar o amor pelo cinema desde a mais tenra idade e o adolescente que dá seus primeiros passos na sétima arte, vencendo o bullying, as mudanças de cidade e o duro divórcio dos pais com uma câmera nas mãos.

É maravilhoso apreciar como Spielberg recorda sua família – especialmente seus pais, que o levaram pela primeira vez ao cinema para assistir “O maior espetáculo da Terra”, de Cecil B. De Mille. Em certo momento, a mãe – uma pianista – tem uma fala sensacional sobre as diferenças da família, dizendo que Sammy puxou a ela no amor pela arte, e não ao pai, um engenheiro de computação, no amor pela ciência exata.

Para quem o assiste no cinema, “Os Fabelmans” começa com uma bela declaração de Spielberg agradecendo ao público por vê-lo nas telonas e explicando o quão pessoal para ele serão as 2h30 de filme que estão por vir. E vêm, de fato, 150 minutos da genialidade de um dos maiores diretores de todos os tempos, já premiado com os Globos de Ouro de melhor diretor e melhor filme de drama por esta mais recente produção.

O espectador acompanha a infância de Sammy (Mateo Zoryon Francis-DeFord) produzindo seu primeiro “filme” com a ajuda da mãe, Mitzki (Michelle Williams), uma recriação da colisão de trem de “O maior espetáculo da Terra”; o crescimento de um jovem, Sammy “2” (Gabriel LaBelle), ambicionando pelo sucesso no cinema; e as relações bonitas e distorcidas da família, com o aparente conflito entre arte e ciência – marcado pelo pai Burt (Paul Dano), escancarado na curta mas brilhante participação de Judd Hirsch como o tio-avô artista de circo e balanceado pelo “tio” Bennie (Seth Rogen), que no fim das contas era o amante de Mitzki.

A fotografia de “Os Fabelmans” e os cortes de câmera de Spielberg são brilhantes até, literalmente, a última cena. Preste muita atenção.

Fiquei especialmente comovido pela maiúscula atuação de Michelle Williams. Como um fã de “Dawson’s Creek”, a série pela qual que Williams foi lançada ao estrelato no final dos anos 1990, é cada vez mais prazeroso ver a artista brilhante que ela se tornou e que já podíamos perceber no drama adolescente de 25 anos atrás. E ela – assim como os outros protagonistas de “Dawson’s Creek”, diga-se de passagem – não renega a série! Dia desses, foi homenageada nos “Gotham Awards” e disse que não teria se tornado o que se tornou sem interpretar Jen Lindley e sem conhecer Mary Beth Peil, sua “Grams” na série.

Williams recebeu sua quinta indicação ao Oscar por “Os Fabelmans”, novamente como melhor atriz. Muitos defendem que ela venceria de barbada se tivesse feito campanha para atriz coadjuvante. Mas corretamente escolheu se lançar como atriz principal, o que de fato é no filme de Spielberg. Conquistou a nomeação. Agora a concorrência é enorme, especialmente de Cate Blanchett (que venceu o Globo de Ouro por “Tár”), mas já declaro aqui minha torcida por Williams.

“Os Fabelmans” concorre a sete estatuetas no dia 12 de março. Aposto forte em Spielberg para melhor diretor e em melhor filme. Nas outras categorias, parece correr mais por fora, mas qualquer vitória não seria nenhuma surpresa. Paul Dano poderia ter sido indicado a melhor ator coadjuvante, aliás, mas a Academia preferiu os menos minutos de tela – embora não menos brilhantes – de Hirsch. Tenho minhas dúvidas se foi o correto.

Lamento apenas a bilheteria fraca, de 28,3 milhões de dólares até agora, abaixo dos 40 milhões de orçamento. Merecia muito, muito mais. Quem sabe se Spielberg tivesse se retratado como o “Super Spielberg” com o superpoder de um camera man as pessoas tivessem ido em mais peso ao cinema. Parece que só isso para tirar gente de casa hoje em dia – infelizmente. Se puder, não cometa o mesmo erro e veja “Os Fabelmans”!

“Os Fabelmans”
Os Fabelmans foi escrito e dirigido por Steven Spielberg, multipremiado diretor de sucessos, entre eles O Resgate do Soldado Ryan (1998) e A Lista de Schindler (1994), vencedores do Oscar. Após a Segunda Guerra Mundial, o pequeno Sammy (Gabriel LaBelle) vive com sua irmã, a mãe Mitzi (Michelle Williams) e o pai Burt (Paul Dano), no Arizona, Estados Unidos. Aos sete anos, ele já havia mostrado um incrível fascínio pelos filmes. O tempo passa, Sammy cresce, aprende sobre sua família e, incentivado pela veia artística da mãe, desenvolve seu talento a ponto de contar histórias através das câmeras. Vencedor do prêmio de melhor filme drama do Globo de Ouro 2023.

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