Maratona do Oscar: Joy/Paula Hermógenes

Maratona do Oscar: Joy/Paula Hermógenes

joyConsiderando ser este mais um trabalho de David O Russell com Jennifer Lawrence, Robert De Niro,  Bradley Cooper e mais alguns coadjuvantes de luxo como Isabella Rossellini, não há como manter as expectativas reduzidas.  E…os primeiros trinta minutos são um misto de choque de realidade e constatações: o roteiro não é bom, o ritmo é instável e atores fantásticos não fazem milagre.  Em meio ao início fraco uma boa surpresa: Edgar Ramirez.  O ator venezuelano de 38 anos que faz o marido e depois ex-marido de Joy é mais do que um rosto bonito e viril.  Se conseguir papéis maiores com roteiros bons não deverá desapontar!
 
A mensagem principal do filme talvez seja o poder do empreendedorismo feminino, afinal o filme é baseado numa história real.  Joy é uma lutadora, típica loser americana, chefe de uma família que não mede esforços para progredir e tirar sua família na lama.  Mas a falta de originalidade do roteiro é marcante: a família se assemelha à de outro filme: Little Miss Sunshine e em linhas gerais o roteiro parece tentar seguir a linha de “In the Pursuit of Happiness” na linha 90% do filme é pura “sofrência” com pitadas de comédia (aproveitando a veia cômica de Lawrence, de Niro e Rossellini) com 10% finais de momentos felizes.  Até a filha de Joy cumpre papel pontuador na trama semelhante ao do filho de Will Smith em ¨The Pursuit of Happiness”.   
 
Se o roteiro é pouco original, David Russell parece derrapar também na direção.  É difícil encontrar uma cena em que a câmera esteja estável.  Sim, está na moda movimentar câmeras de forma a transmitir fluidez.  Alguém deve dizer a Russel que isso funciona melhor em filmes de ação, suspense ou aventura.  Num drama não, por favor, o expectador fica enjoado ou cansado.
 
O sofrimento vazio de Joy ocupa a primeira metade inteira do filme, à exceção de uma cena cômica a bordo do veleiro onde Joy se corta usando um esfregão e tem o insight que lhe renderia sua mais importante invenção.  A cena do veleiro, diga-se de passagem, poderia fazer parte de “Meet the Fockers” de Jay Roach.
A segunda metade do filme ganha ritmo, sejamos justos, devido à boa atuação de Bradley Cooper e Jen Lawrence – como eles funcionam bem juntos!   O longa subitamente melhora e o espectador se pergunta se a primeira parte não poderia ter sido ao menos 30% mais curta porque a essa altura nem a beleza de Brad salva.
Enfim, Joy deixa a desejar para os fãs dos filmes anteriores de Russell.  Sua busca por repetir sucesso aplicando a mesma fórmula sempre parece ter se esgotado.  Infelizmente.
Maratona Oscar: O Menino e o Mundo/ Vitor Arouca

Maratona Oscar: O Menino e o Mundo/ Vitor Arouca

Capa_Blog03_b.pngA categoria de Melhor Animação tem um grande favorito, mas uma animação brasileira pode surpreender na premiação.

O “Divertida Mente” da Pixar é muito favorito ao prêmio. Já a animação de Alê Abreu, “O Menino e o Mundo”, correr por fora para tentar derrotar a animação favorita. Se isso acontecer será o primeiro Oscar brasileiro.

“Zebras” já aconteceram no Oscar. “Carros” perdeu para “Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais”.

O filme retrata o mundo moderno visto pelo olhar de uma criança.

Sinopse: Sofrendo com a falta do pai, um menino deixa sua aldeia e descobre um mundo fantástico dominado por máquinas-bichos e estranhos seres.

 

Maratona do Oscar/ O Filho de Saul/ Vitor Arouca/ Colaboração de Luis Fernando Salles

Maratona do Oscar/ O Filho de Saul/ Vitor Arouca/ Colaboração de Luis Fernando Salles

son of saul - cartazFavorito ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, O Filho de Saul traz de novo as telonas os horrores sofridos pelos judeus nos campos de concentração da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

O filme Húngaro dirigido por László Nemes também foi selecionado para a amostra competitiva do Festival de Cannes.

Saul, um judeu confinado nos campos de concentração, é designando pelos alemães a um papel de Soondekomando, ou seja, participa do grupo de pessoas que retiram os corpos exterminados das câmaras de gás para leva-los a cremação. Um dia ao realizar seu árduo trabalho, Saul encontra o corpo vivo de um menino ao meio de dezenas de cadáveres.

O garoto logo é executado por um oficial alemão e seu corpo é enviado para a autopsia. Saul, então, corre contra o tempo e as adversidades do local para resgatar o corpo do menino e conceder-lhe um funeral digno.

O longa é filmado de uma maneira inusitada. As câmeras são posicionadas grudadas ora no rosto de Saul, ora atrás dele, mostrando o que ele vê e causando uma sensação de aprisionamento. Dessa maneira podemos ver o horror da guerra como os que a vivenciaram no momento.

O Filho de Saul pode ser assustador para quem não está preparado para se deparar com a realidade de episódios odiosos da história da humanidade como esse.

Porém, é uma lição quando nos mostra que mesmo em meio a uma barbárie, ainda há amor entre as pessoas.

Nota: 5/5. Filmaço!

 

Por Vitor Arouca. com colaboração de Luis Fernando Salles

 

Maratona do Oscar: Steve Jobs/Paula Hermógenes

Maratona do Oscar: Steve Jobs/Paula Hermógenes

 

steve jobsEscrito por Aaron Sorkin e dirigido por Danny Boyle, o filme é estrelado por Micheal Fassbender, Kate Winslet, Seth Rogen, Jeff Daniels and Michael Stuhlbarg, ie, uma constelação e tanto.  Entretanto, a qualidade do elenco talvez seja a única unanimidade a ele relacionada. 
 
Para início de conversa, Danny Boyle, dono de uma filmografia eclética e recheada de pérolas como Trainspotting (1996), o aclamado “Slumdog Millionaire” (2008) e 127 horas (2010) – para citar os mais conhecidos, parece se confirmar como um diretor de atores.  Os diálogos são bem escritos e o enquadramento realça as expressões faciais e só funcionaria com grandes atores que executam seus papéis de maneira convincente.  Apesar disso, Steve Jobs é mais uma tentativa parcialmente frustrada de retratar o perfil arrogante e controlador de Jobs com atenuantes relacionados à relação com sua filha Lisa.
 
O filme se passa nos bastidores dos lançamentos de alguns dos marcantes lançamentos da Apple, cobre a saída de Jobs para a Next e seu retorno, assim como as relações de amor e ódio com ícones da Apple: Steve Wozniak, John Scully, and Joanna Hoffman. Rapidamente, fica claro que a Jobs só interessava fazer o que queria quando queria e da forma que queria.
 
A intenção é boa, mas os diálogos são demasiadamente técnicos – no caso dos diálogos sobre produtos ou, ao contrário, demasiadamente sentimentais, quando o assunto é a relação de Jobs com amigos, a ex-mulher e a filha.  É difícil nutrir grandes expectativas sobre um filme que retrata episódios da vida de um ícone do mercado de eletrônicos, que fundou uma companhia cujos produtos você não usa.  Os primeiros trinta minutos são bons, os 30-45 minutos seguintes se arrastam e, depois o tom dos diálogos cresce novamente recuperando a metade final do filme.  Dizem que esta versão é bastante superior àquela estrelada por Ashton Kutcher.
 
Michael Fassbender, que apesar de larga experiência, só apareceu para o mundo em 12 Anos de Escravidão, faz um trabalho muito bom como Jobs – egoísta, vaidoso, arrogante, esperto e …teimoso.   Na corrida pelo Oscar, não é favorito como DiCaprio e pode até se tornar a “zebra” da noite.
 
Kate Winslet está quase irreconhecível como Joanna, o personagem que faz, às vezes, contraponto sentimental no filme frente à personalidade egoísta e vingativa de Jobs.  Mas Kate é excelente atriz e pode muito mais.  Seu personagem não chega nem perto de liberar seu potencial como atriz.
 
Em resumo, está ainda para surgir um bom filme sobre Jobs.  Danny se esforça mas ainda não foi dessa vez!
 
Nota 3 poltronas/5 poltronas
Um diálogo favorito:
Steve Wozniak: What do you do? You’re not an engineer. You’re not a designer. You can’t put a hammer to a nail. I built the circuit board! The graphical interface was stolen! So how come ten times in a day I read Steve Jobs is a genius? What do you do?
Steve Jobs: Musicians play their instruments. I play the orchestra.
Maratona do Oscar: Trumbo/Pablo Bazarello

Maratona do Oscar: Trumbo/Pablo Bazarello

trumboBiografias sobre personalidades do mundo do cinema são sempre encantadoras para quem trabalha na área ou, simplesmente, aprecia tal universo. É interessante notar que quase sempre tal subgênero vem associado aos bastidores desta indústria específica, o que se torna um item ainda mais especial para quem gosta de estudar o assunto. Os amantes de história igualmente regozijam, já que aprender sobre determinada época nunca é demais.

Trumbo – Lista Negra”, baseado no livro de Bruce Cook, se encaixa em tais quesitos e vai além. Serve igualmente como aula de história política, inteiramente atual e relevante com a realidade que vivemos no Brasil hoje. Dalton Trumbo foi um dos roteiristas mais importantes da história de Hollywood. Sua vida pessoal é o tema do livro que acaba de virar filme. Grande apoiador do partido comunista, Trumbo se viu em meio a uma guerra quando os EUA caçavam e puniam tal tipo de pensamento, provido da União Soviética (atual Rússia), inimigo declarado do país norte-americano.

A chamada época da Caça às Bruxas visava encontrar e expor simpatizantes da causa, vistos como inimigos e traidores de sua nação. Em Hollywood, não foi diferente, e artistas eram perseguidos por suas crenças políticas. Na maioria dos casos, eram postos numa lista negra, na qual uma vez figurando, não conseguiam mais emprego e enfrentavam tempo de cadeia. Alguns eram obrigados a delatar, se não quisessem passar por tal punição eles mesmos.

No meio de tal furacão, um dos mais talentosos roteiristas que a indústria americana já viu. Trumbo, como retratado no filme (com a ajuda do excelente intérprete Bryan Cranston, da série “Breaking Bad”), era um sujeito decente, pai de família amoroso e marido preocupado em prover o lar. Ao ser liberado da prisão, após onze meses encarcerado, o escritor não encontrou trabalho – muito comum em casos assim. A solução foi utilizar um pseudônimo e escrever porcarias para um produtor de filmes B (como “O Alien e a Fazendeira”), ao mesmo tempo em que ajudava os amigos no mesmo barco que ele e aos poucos recuperava seu prestígio.

Usando tal estratégia, Trumbo ganhou dois Oscar (por “A Princesa e o Plebeu” – o qual creditou o amigo Ian McLellan Hunter – e “Arenas Sangrentas” – para o qual criou a alcunha Robert Rich). “Trumbo”, o filme, não chega a ser especial no sentido inovador. Dirigido por Jay Roach, especialista em comédias, vide “Entrando Numa Fria” (2000) e “Austin Powers” (1997, 1999, 2002), a obra segue a estrutura básica de biografias, sendo de fácil acesso ao grande público. Ao mesmo tempo, merece elogios por abordar um tema difícil de ser traduzido, transformando-o em um filme dinâmico, engraçado e, por vezes, emocionante.

Na parte técnica, é curioso notar a direção de arte e figurinos, sempre recheada de tons azuis (os ternos dos personagens principais, todos simpatizantes do comunismo). Quando a cor vermelha de fato aparece, ela aparece impressa nos implacáveis conservadores que caçavam a ameaça “antiamericana”, encabeçados por Hedda Hopper (a exuberante Helen Mirren). Levado parcialmente no tom de chacota (uma das vertentes do humor) e parcialmente em teor sério (afinal este é um assunto extremamente digno e dramático), “Trumbo – Lista Negra” é bem teatral. Podemos ver tal estilo inclusive nas performances dos citados Cranston e Mirren, sempre em um tom abaixo do exagerado ou da caricatura.

É impossível, no entanto, os olhos cinéfilos não grudarem na tela ao vermos abordadas figuras importantes como John Wayne (David James Elliott), Kirk Douglas (Dean O´Gorman), Edward G. Robinson (Michael Stuhlbarg), Louis B. Mayer (Richard Portnow) e Otto Preminger (Christian Berkel), entre outros, e perceber de que lado do conflito se posicionaram. Todos, é claro, defendidos de forma honesta pelo roteiro, que não aponta dedos ou sentencia vilões e mocinhos no conturbado período. Bem, ou quase.