Maratona do Oscar: Birdman/Pablo Bazarello

Maratona do Oscar: Birdman/Pablo Bazarello

A resenha de hoje da nossa Maratona Oscar será feita pelo crítico de cinema do site Pipoca Gigante, Pablo Bazarello. Uma participação pra lá de luxuosa. Aproveitem, poltroneiros!

 

Crédito da foto: Reprodução da Internet.
Crédito da foto: Reprodução da Internet.

Uma das coisas que mais satisfaz quem assiste a muitos filmes é a originalidade. Dar a pessoa algo novo. E não digo apenas uma história, mas a forma como é contada (a narrativa), as performances ou qualquer outro elemento formador do todo. É justamente esse o presente que ganhamos ao adentrarmos “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)”, uma incursão sem precedentes pelos bastidores do showbusiness. O diretor mexicano Alejandro Gonzáles Iñárritu (indicado para cinco prêmios Oscar – três por este filme) finalmente sai de sua zona de conforto narrativo para apresentar algo totalmente diversificado – o que por si só já é um grande atrativo.

“Birdman” é como uma dessas bonecas russas: existe dentro de si em variados níveis de metalinguagem. O filme foi criado por Iñárritu para o ator Michael Keaton e traça forte paralelo (apesar de negarem) com a carreira do veterano. Na trama, Keaton protagoniza como Riggan, ator que já esteve no topo do mundo ao viver um dos primeiros super-heróis de quadrinhos nas telonas, o fictício Birdman. Na vida real, Keaton foi Batman em 1989 e 1992 e teve o maior momento de projeção em sua carreira com tais blockbusters. Com certa idade, o protagonista planeja sua grande volta ao produzir, adaptar, dirigir e estrelar uma peça teatral da Broadway.

Na vida real, Keaton voltou aos holofotes devido ao sucesso crítico que “Birdman” tem conquistado. Além das dificuldades que o protagonista passa para estrear sua peça, todos dilemas dignos de Woody Allen – atores que saem da peça e ameaçam processo, atores talentosos mas extremamente egocêntricos, atrizes com quem se envolveu –, Riggan vive um conflito interno Freudiano. Precisa provar para si e para o mundo que é um ator de verdade e não uma piada de Hollywood, um produto feito para gerar fortunas. Existe um dizer que afirma que o cinema é a mídia de diretores; a TV, dos escritores; e o teatro, dos atores. Seguindo esta lógica, só é considerado um ator quem passou pela experiência do “ao vivo”.

Cada personagem é minuciosamente confeccionado para representar uma vertente, uma personalidade questionadora dentro do meio artístico. Assim temos a cria do showbizz (Emma Stone), o ególatra (Edward Norton), o empresário faz-tudo (Zach Galifianakis), a ex-mulher (Amy Ryan), a menosprezada (Andrea Riseborough) e a insegura (Naomi Watts). Porém, nenhum outro retrato é tão importante para o núcleo da obra quanto o da crítica teatral Tabitha (Lindsay Duncan). Ela é um forte conduíte para uma das principais discussões apresentadas pela obra: arte versus entretenimento. Pré-disposta a achincalhar a produção de Riggan antes de sua estreia, a personagem rende um dos melhores trechos de diálogo na colisão com o protagonista em um bar. Nesse momento, talvez falando para todos os críticos do mundo, Iñárritu revela o quanto pode ser perigoso o status que certos formadores de opiniões possuem.

Além de tudo isso, “Birdman” ainda possui um monte de atrativos, como o fato de ter sido aparentemente rodado numa tomada única (apenas aparentemente), como uma verdadeira peça, na qual é exigido dos atores um grande domínio de cena. Os elementos técnicos são apenas a cereja do bolo, e “Birdman” merece ser detalhadamente estudado ao longo dos anos. Sem dúvidas, é um dos filmes que têm mais a dizer sobre seu tema específico nos últimos tempos.

 

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