Por: Gabriel Araújo (@gabriel_araujo1)
Sessão de Matinê: “Adeus, Lênin!”
Ótima produção europeia que muitos brasileiros não conhecem – apesar de ter lotado sessões na Mostra BR em 2003 -, “Adeus, Lênin!” representa com maestria a Guerra Fria, a queda do Muro de Berlim e a reunificação alemã. O capitalismo que engole o lado Oriental no início dos anos 90. E de forma muito interessante: manter em segredo o que acontece. Será possível?
Já aviso: acabarei revelando parte do enredo. É impossível comentar a película sem contá-la. Pois bem: a história mostra uma mulher fanática pelo governo com base socialista, soviética, em Berlim Oriental, na DDR. Ela acaba tendo um ataque cardíaco quando vê o filho em uma manifestação contra o governo. Fica em coma. O muro cai, tudo é reunificado. Quando acorda, a família, para preservar sua saúde e evitar grandes emoções, é obrigada a montar uma Alemanha Oriental em casa, de mentira. Um país próprio em meio à onda capitalista. Marcas, produtos, tudo é feito como se ainda houvesse o antigo regime, apesar de o país estar banhado a Coca-Cola e Burger King, em vez de pickles e cafés antigos, de Audi ou BMW ao invés de Trabant ou Wartburg. Cenário diferente, missão complicada.
A atuação de Daniel Brühl, que recentemente fez no elogiadíssimo “Rush” o papel de Niki Lauda, é excelente. Ele é Alex, o filho que cria o socialismo próprio para privar a mãe das fortes emoções com sua saúde frágil. Katrin Sass, a mãe (Sra. Kerner), também cria bem uma fanática política. Os momentos em que ela, aos poucos, percebe o capitalismo, mesmo sem entender nada, são bons. Enfim: a trama é envolvente, excelente.
O diretor e roteirista, Wolfgang Becker, cria analogias interessantes. Sigmund Jähn, o primeiro alemão no espaço com a nave soviética Sojus 31 (1978), cosmonauta ídolo de Alex, acaba, no filme, como um motorista de táxi. Representa a derrocada do governo socialista na DDR. E, no final, coloca uma estrela vermelha quebrada que volta ao normal. Para a produção, é o que acontece. O mundo gira e muda. O socialismo quebra. Mas no interior da Sra. Kerner, ainda é o mesmo. Inteiro.
“Adeus, Lênin!”, representante alemão na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro em 2004, é uma bela aula de História e Geografia. Merece ser assistido com bons olhos.
Nota: 4/5
Sinopse:
Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra. Kerner (Katrin Sab) passa mal, entra em coma e fica desacordada durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl), temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos. Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não tem muitos problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.