Maratona Oscar: Assunto de Família/ Cesar Augusto Mota

Maratona Oscar: Assunto de Família/ Cesar Augusto Mota

Acostumado a retratar em sua filmografia histórias que envolvam laços familiares nas mais variadas vertentes,  o cineasta japonês Hirokazu Kore-eda (Pais e Filhos) mostra que um ambiente familiar vai muito além de questões biológicas. ‘Assunto de Família’ (Shoplifters), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, vai por esse caminho, além de abordar temas muito atuais, como a ruptura do conceito tradicional de família e o abuso infantil.

Ambientada na cidade de Tóquio, a família Shibata vive em condições de pobreza, dependendo   da pensão da matriarca da família e de pequenos furtos em mercados para a própria sobrevivência. Durante um retorno para casa, Osamu (Lily Franky) e o filho Shota (Kairi Jo) se deparam com uma menina abandonada na rua. Mesmo em dificuldades financeiras, a família acolhe a menina, que percebe claros sinais de que ela sofreu maus tratos.

Porém, não existe nenhuma relação de parentesco entre os membros da família em questão, todos se juntaram em decorrência de diversas circunstâncias. A avó foi abandonada por seus parentes, o casal não pode ter filhos e os dois adolescentes, o garoto desconhece as origens de sua família biológica, e a garota é deixada com a idosa em troca de pagamentos das despesas mensais. Após a chegada de Yuri, a garotinha abandonada, todos passam a se unir e se importar uns com os outros.

As cenas em ambiente doméstico são realizadas com muita simplicidade, em um espaço extremamente reduzido, com o uso de planos bem fechados que permitem ao espectador se sentir mais íntimo dos personagens. Os diálogos são leves e divertidos e os semblantes dos seis membros da família são de pessoas altruístas e muito afetuosas, cativando a todos, apesar de viverem em meio a condutas ilícitas e questionáveis. A graça da trama é que o público consegue se importar e ter empatia com um núcleo familiar diferente, que vai contra muitas questões morais.

Durante a história, questões pertinentes surgem, como os valores da família e a questão da moralidade. O que é necessário para um ambiente ser considerado familiar? Dinheiro? Uma casa bem estruturada? Educação? Será que além de tudo isso, é necessário mais alguma coisa para uma família ser considerada feliz? E sobre as condutas que vão contra a moral e os bons costumes, como a prostituição e os roubos praticados para obtenção recursos para o sustento, isso gera desconforto, mas compreensão ao mesmo tempo, a família Shibata vive em condições desesperadoras e está disposta a tudo para se manter em pé.

As reviravoltas que acontecem se dão de uma forma um pouco acelerada do segundo para o último ato, e o drama dá lugar ao suspense a partir do momento que as autoridades locais se envolvem, dando a impressão de que a narrativa vai se encerrar a qualquer instante. Mas o que ocorre são resoluções complexas, mas necessárias dos diversos conflitos, com uma conclusão decepcionante, porém previsível.

Com uma história didática, envolvente e realista, ‘Assunto de Família’ toca em pontos cruciais e necessários para uma vida harmoniosa e digna do ser humano. Mensagens de otimismo e esperança também se fazem presentes diante de um mundo cada vez mais caótico e de relacionamentos frágeis.

Cotação: 4,5/5 poltronas.

Por: Cesar Augusto Mota